quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Pacifistas norte-americanos versus os aviões-robôs

Las Vegas, EUA, setembro 2010: julgamento histórico

15/9/2010, Jason Whited, Commondreams

Traduzido por Vila Vudu


14 pacifistas ativistas podem ter feito história hoje num pequeno tribunal de Las Vegas, quando conseguiram converter um julgamento por invasão de propriedade pública, no que já parece ser julgamento popular plebiscitário da prática cada vez mais difundida no Exército dos EUA, da guerra ‘por controle remoto’, com aviões-robôs não tripulados.


O grupo chamado Creech 14 [Do Movimento Católico Creech Family] de ativistas pacifistas norte-americanos, começou a ser julgado ontem pela manhã, numa corte de Las Vegas, acusados de terem invadido uma base aérea dos EUA em abril de 2009.


Desde o primeiro momento, a promotoria empenhou-se em manter o julgamento focado na acusação de que os acusados haviam entrado sem autorização numa base aérea dos EUA e se recusado a sair.


Ao focar exclusivamente a acusação de invasão de prédio público, a acusação visava a não chamar a atenção para o caráter político do movimento – organizado como manifestação de protesto contra o trabalho daquela base militar, sobre a qual praticamente não há notícias na imprensa dos EUA, mas conhecida na região por ser o quartel-general das operações militares com aviões-robôs, de fato, aviões lança-mísseis não tripulados, no Afeganistão, Iraque e Paquistão.


A defesa, porém, conseguiu neutralizar o movimento da acusação, de conseguir julgamento discreto, condenação rápida, só formal.


Foram chamados, como testemunhas de defesa do grupo Creech 14, alguns dos mais conhecidos e respeitados nomes do movimento antiguerra dos EUA: Ramsey Clark, ex Procurador Geral dos EUA no governo do presidente Lyndon Johnson; Ann Wright, coronel aposentada do Exército, uma dos três militares de alta patente que se aposentaram às vésperas da invasão do Iraque, como protesto contra a invasão, em 2003; e Bill Quigley, diretor jurídico do Center for Constitutional Rights (Centro de Defesa dos Direitos Constitucionais) com sede em New York.


Ao final dos depoimentos dessas três testemunhas, que se declararam convencidas da legalidade do protesto dos ativistas, o juiz William Jansen, de uma corte distrital de justiça de Las Vegas, já estava convencido de que o processo fora mal encaminhado pela Procuradoria – e decidiu adiar o julgamento por quatro meses – exatamente o que desejavam os ativistas, para dar maior visibilidade nacional ao seu protesto.


A melhor parte do dia foram as falas de Clark, Wright e Quigley, diretamente interrogados pela defesa e pela acusação.


Cada um dos três discursou brilhante e apaixonadamente a favor da importância dos movimentos de cidadãos pela desobediência civil não-violenta, como único meio efetivo para conter a ação criminosa do governo dos EUA no Afeganistão e no Paquistão, e sobre as características de “guerra suja”, denunciada em todo o mundo, que se veem no emprego de aviões-robôs como arma de ataque contra civis desarmados.


“É direito dos cidadãos organizados ultrapassar o limite da lei sempre que se tratar de defender o bem geral maior – e a própria lei democrática prevê exceções, em casos de urgente necessidade e para salvar vidas” – disse Quigley, falando sob juramento no banco das testemunhas.


O julgamento do grupo Creech 14 é a primeira vez na história dos EUA que um juiz admite, como argumento de defesa, o direito dos cidadãos, de se manifestarem em protesto pacífico contra o uso de algum tipo de arma pelo exército dos EUA em tempo de guerra.


Não se pode adivinhar a sentença do juiz Jansen, mas é mais do que bom sinal que, ao final do dia de discursos, os presentes, na pequena sala de julgamento super lotada, tenham explodido em aplausos (e lágrimas) quando o juiz Jansen dispensou os acusados – militantes de um muito ativo movimento de católicos contra a guerra – com palavras carregadas de sentido religioso: “Vão em paz!”


O artigo original, em inglês, pode ser lido em: Vegas Drone Trial Makes History