quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Washington Post aos seus jornalistas: “Ficam todos proibidos de discutir com leitores pelo Twitter”

20/10/2010, Blog Greenslade, Guardian, UKTraduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

Imediatamente depois de uma troca de mensagens pela conta principal do Post no Twitter, circulou na redação um memorando interno, proibindo os jornalistas de continuar a discussão.

“Embora o jornal estimule toda a redação a engajar-se nas mídias sociais e a utilizar aquelas boas ferramentas, é absolutamente vital que todos tenham em mente que as contas que incluem a marca do Post é devem ser usadas como plataformas para repercutir o nosso noticiário, recolher conteúdo gerado pelos leitores e promover a fidelização do público ao conteúdo do Post.
As contas que não incluam a marca do Post devem ser usadas para responder aos críticos e falar a favor do Post, exatamente como todos devem fazer, nos termos do Manual de Redação do Post, sem jamais falar em nome do Post.”

O memorando apareceu logo depois de o Post ter publicado online artigo controvertido assinado por Tony Perkins, que se autoidentifica como “ativista anti-gay (“Christian compassion requires the truth about harms of homosexuality”).

O artigo, que apareceu logo depois de uma onda de suicídios de adolescentes perseguidos na escola por serem gays, sugeria fortemente que a homossexualidade seria doença mental. Imediatamente, ativistas gays protestaram via Twitter. E jornalistas do Post defenderam a publicação, também pelo Twitter.

Para a direção do Post, fizeram exatamente o que não deveriam ter feito. O Memorando mordaça (no que tenha a ver com o Twitter) dizia:

“Talvez seja útil analisar a coisa da seguinte perspectiva: quando publicamos, os leitores são livres para responder o que queiram e nós lhes oferecemos os canais para responder.
Vez ou outras, mantemos contato verbal direto com os leitores. Mas em discussão pelas mídias sociais, o leitor escreve como se escrevesse ao editor do jornal. O jornalista não está autorizado a responder cartas endereçadas ao editor do jornal. Não fazemos isso. Não queremos que ninguém faça.”

Devo dizer que me escapa a lógica (ou falta de lógica) do Post.

Jornalismo é compromisso que o jornalista assume com os leitores. É muito mais fácil discutir hoje, no mundo digital, do que jamais antes. Impedir que jornalistas discutam com seus críticos é tolher a liberdade, ao mesmo tempo, do jornalista e dos cidadãos.

O Memorando tresanda a arrogância da “grande mídia”. Como se o Post estabelecesse os termos do “engajamento com o leitor” em termos de marketing, atividade promocional, sem qualquer empenho legítimo para promover o diálogo entre editores e redatores... e os leitores!