domingo, 14 de novembro de 2010

Instalação do estaleiro do grupo OSX em Biguaçu na Ilha de Sta. Catarina, Florianópolis

Comentários do escritor, jornalista e poeta, Raul Longo


Assunto: Parecer sobre a instalação do estaleiro do grupo OSX em Biguaçu será finalizado nesta sexta-feira (publicado pelo portal T1 – José Augusto Valente – Diretor Técnico)

Castor:

(Me desculpe a extensão de tudo o que te escrevi aí adiante, mas peço sua atenção por motivos que serão explicados)

Vi aí a notícia sobre o estaleiro OSX. Evidente que ambas as coisas estão relacionadas: a questão biológica e a social, já que as principais fontes de ofertas de mão de obra daqui da região advêm da manutenção da biologia e da beleza natural. Ou seja, se o parecer da presidência do ICMBIO impedir o licenciamento, se tornará compreensível até mesmo àquela faixa da população influída pela mídia e pelo entusiasmo dos políticos locais, ainda que alguns empresários (esses, sim, uma meia dúzia) continuem esbravejando algum tempo por terem frustradas suas velhas intenções de instalações de marinas e portos, impossibilitados pelos altos custos da dragagem deste canal.

No entanto, entre estes a maioria há anos alimentam tais intenções voltadas para recepção de grandes barcos de passeio ou transporte turístico e só quando começarem a perceber a queda do fluxo turístico entenderão a que estamos nos referindo quando nos indispomos contra a vocação natural da região. E, evidentemente, não culparão aos seus partidos e candidatos ou ao governador do DEM que elegeram. Mas, sim, ao governo federal.

Não terão coragem de enfrentar a lembrança de como hoje apoiam o empreendimento, mas, já hoje, quando não encontram argumentos para refutar nossas previsões, se evadem com paradoxais acusação de que Lula é sócio do Eike ou que esse licenciamento já foi negociado em troca do financiamento da campanha eleitoral da Dilma.

O candidato do PSOL usou isso em sua campanha e nos debates sem ser rebatido pela Ideli em momento algum. Aliás, afora o do PSOL, nenhum dos candidatos tocou no assunto durante os debates, nem mesmo o do PV que, após passada as eleições, vem fazendo coro a todos os que acusam Lula e Dilma de desenvolvimentistas a qualquer custo. Essa versão se cristalizará com um eventual licenciamento a ser decidido pelo ICMBIO, principalmente pela falta de um estudo de impacto social. Eu mesmo sou crítico a isso de apenas técnicos ambientalistas serem consultados, pois a magnitude do impacto ambiental está intimamente relacionada com o social. Se não aprovado o licenciamento, a falta desse cuidado se esvai, mas se aprovado, imagino que será o grande motivo de continuidade da luta contrária ao empreendimento que prosseguirá e com ainda maiores desgastes de imagem ao governo federal.    

Apesar da omissão do assunto nos debates e em toda  as campanhas dos candidatos, Ideli acirradamente a defesa do empreendimento logo que notificado e assim como Dilma é a mãe do PAC aqui será a mãe do Estaleiro, com Ideli de madrinha e Fritsch ou Gregolin de padrinhos. Tenho sempre de insistir no nome do Eike Batista porque já tem muito gente chamando de estaleiro do Lula. E é a própria esquerda (PSTU e PSOL) local que vem responsabilizado o governo federal pelo empreendimento, enquanto, constrangida pelas declarações da Ideli no início do processe, a militância petista apenas se amoita. Sou o único que dou a cara a bater, pela independência ao partido de que desfruto e preservo. Mesmo assim, me ironizam de todos os lados: na rua e pela internet.

Claro que tudo isso é orquestrado e sabemos muito bem de quem parte o comando dessa manipulação que quebrou as pernas do PT local. Difícil aceitar como ocasional vacilada política, pois as tantas denúncias contra Leonel Pavan de ligação ao tráfico de drogas, contra Luís Henrique da Silveira por superfaturamento na contratação de Andrea Bocceli no final do ano que passou, impedida pelo Ministério Público que também condenou o prefeito pelo superfaturamento de uma árvore de natal; evidenciavam uma muito possível vitória de Ideli ao governo do estado. Principalmente porque Colombo não é político de muita projeção e tem como correligionários e principais cabos eleitorais a mesma quadrilha citada.

Mesmo que não elegêssemos Ideli, tudo isso evidenciava que nestas eleições, enfim, conseguiríamos resultados muito significativos para o PT, apesar de ainda refletir muito por aqui os efeitos do golpe do mensalão, sempre utilizados pelo grupo do Bornhausen que além do DEM e do PSDB encampa todo o PMDB catarinense.

Um PMDB reiteradamente desgastado, por acusações de corrupção desde Paulo Afonso e neste e todos os anos anteriores da gestão de Luís Henrique no governo do estado e Dário Berger na prefeitura da capital.

Os Amins não conseguiram eleger sucessor à prefeitura 6 anos atrás, tampouco o próprio Espiridião se reelegeu governador há 8 anos e nem prefeito há 2. No entanto Ideli, que há 8 anos foi eleita como a Senadora mais votada no estado, perdeu para eles nesta eleição de agora.

E não foi por campanha movida contra ela em 2006 por motivo de um financiamento da Eletrosul sob direção de seu ex-marido para um curso que a Senadora fez no exterior. Recordando disso agora, reforçam-se ainda mais as suspeitas que adiante vou te expor. Pode ter sido mera casualidade, mas talvez explique o que na época me fez estranhar pela inusitada aparente isenção dos tão comprometidos Sirotsky, abrindo espaços em todos os programas de suas emissoras e jornais para que Ideli se defendesse das acusações de seus adversários locais: Pavan. Luís Henrique, Paulo Bornhausen, César Souza. Na época gostei daquilo, embora não conseguisse entender como poderia ter ocorrido a despeito da estreita afinidade do grupo empresarial de comunicação com os adversários e acusadores de Ideli.

O apoio da Ângela Amin e sua participação na força tarefa de políticos que se reuniram com a Ministra do Meio Ambiente para desconsideração do parecer do ICMBIO local sobre o estaleiro, é natural e não a comprometeu como candidata. É uma empresária e esse apoio corresponde às bases de sustentação de sua candidatura. Ainda assim, Ângela soube ser discreta. Pavan, que não é candidato a nada, apenas governador em exercício, também foi discreto. Luís Henrique ficou quieto e sequer esteve na reunião. Raimundo Colombo esteve, mas igualmente se manteve discreto.

Na linha de frente, assumindo a defesa do empreendimento com toda a truculência e/ou desfaçatez própria do grupo ao qual pertencem, ficou Edison Andradino, ex-prefeito de Florianópolis e pmdebista calhorda renomado e reconhecido como um dos iniciantes do processo de degradação ideológica do partido, Paulo Bornhausen e César Souza, filho e afilhado do Jorge. Ambos toleimas e reiteradamente derrotados em diversas eleições, ainda que  Paulo ocupe a cadeira de deputado federal por voto puxado. Mas é bom que se destaque que foi derrotado por Leonel Pavan que do PSDB compunha a aliança de sua chapa ao Senado na campanha de 2002, e por Ideli, a então mais votada; apesar do esforço dos Sirotsky, que controlam as pesquisas locais, em apontar durante todo o decorrer daquela campanha, inclusive na boca de urna, o filho de Jorge Bornhausen como primeiríssimo colocado, Pavan em segundo e Ideli numa muito distante terceira colocação, disputada com o então candidato dos Amin.

Apesar desse candidato dos Amin ter sumido na poeira atrás do Bornhausinho, foi por um triz que o Luís Henrique conseguiu ir para o segundo turno contra o Esperidião, mas não teria chance alguma no segundo turno. Até que Lula, então em campanha por seu primeiro mandato, o colocou no palanque na praça da Alfândega sob minhas vistas e senti o mesmo receio que sinto com o Temer, mas vamos lá ver no que dá.

Naquela vez deu merda muito antes do mensalão, pois assim que eleito se esclareceu a franca e pública ligação dos Henriques: Luís da Silveira e Fernando Cardoso, sob a sombra de Bornhausen e com escandalosa participação de menores prostituídas em boates de luxo de Leonel Pavan, o que custou a cabeça do chefe da casa civil para salvar a coroa do governador recém eleito. Boatos inserem FHC no caso, mas de fonte segura, porém impublicável por questões de risco de execução sumária já que a carne negra é a mais barata, tal qual a canta e denúncia Elza Soares; só garanto o El Ratón, como se o alcunha popularmente no meio de minhas fontes fidedignas.

De lá pra cá os escândalos promovidos pela quadrilha foram sucessivos e crescentes em proporções inimagináveis, porém notórias. Mas vou te contar de algumas que ainda não havia notado:

Participei, há duas semanas atrás, de um seminário na UFSC onde eminentes oceanógrafos, biólogos, geógrafos e cientistas sociais expuseram um estudo sobre os  megaempreendimentos a serem lançados na faixa litorânea desse estado entre Balneário Camboriú e Laguna. Todos já negociados com grandes incorporadoras da Espanha, da França, da Inglaterra,  envolvendo capitais belga, árabes, judeu e norte-americanos (Estados Unidos e Canadá), além de outras nações europeias e asiáticas.

Seremos uma Dubai. Quer dizer, seremos nada, porque os estudos dos acadêmicos demonstraram claramente que não caberemos neste espaço. Mais que isso, demonstraram, inclusive, que sequer compensará cabermos em Santa Catarina. Mas minha comparação é mal feita porque Dubai, por mais desproporcional que se aparente, é um investimento programado para exploração turística a longuíssimo prazo. Manias das antigas civilizações de se eternizarem na história que não são contidas nos projetos lançados pela quadrilha comandada por Bornhausen enquanto esteve sob a chefia de Luís Henrique, agora transferida para Raimundo Colombo. Pois tudo ali não passa de especulação imediatista e mesmo os investidores sabe que é coisa para levantar muito dinheiro momentâneo e largar de mão. Grande oportunidade que já não se encontra mais nesse mundo todo voltado para o tal desenvolvimento sustentável e cheio das responsabilidade ambientais.

Faz-se a merda aqui e deixa que se espalhe por conta de alguém, muito provavelmente para quem estiver no próximo governo, pois, segundo as análises dos cientistas a merda é bem próxima. Tanto em termos geográficos quanto cronológicos.

E que merda é essa?

Foi demonstrada de forma muito clara e concreta por um oceanógrafo catedrático da Univale que se ateve exclusivamente no impacto ambiental de cada um dos empreendimentos restritamente divulgados pelo governo Luís Henrique, através de um impresso policrômico com dados nos quais o cientista desenvolveu a projeção da área marítima a ser degradada pela lotação populacional de cada um dos mega hotéis, resort e condomínios previstos e já negociados desde Camboriú até Laguna.

Em seguida, cada um daqueles cientistas demonstraram como se afetariam todas as espécies naturais e as populações da região, mas já nesse primeiro estudo oceanográfico se evidenciou que seja qual for o sistema de tratamento de esgoto empregado, entre as inúmeras tecnologias existentes no mundo, dadas as características  das correntezas marítimas de nossa costa (contorno geográfico, temperatura, fluxo, etc.)e os cursos fluviais que nela incidem; em menos de 10 anos se inviabilizará o turismo em toda a região por isto ter se tornado uma das maiores cloacas a céu aberto do mundo.

Provavelmente você esteja considerando a possibilidade de um exagero de minha parte ou dos cientistas; afinal empreendimentos de tais proporções requerem estudos prévios de impacto ambiental. De fato, e é por esta razão que se realizou aquele seminário promovido pela Universidade Federal, a Universidade Estadual, a UNIVALE e a UNISUL, estas últimas privadas. A realização do evento se deu no auditório da reitoria da UFSC à contragosto do reitor, cooptado pela quadrilha e que integrou a força tarefa para pressionar a Ministra do Meio Ambiente no que se refere ao Estaleiro que tanto me preocupava, sem fazer ideia de que a amplitude do crime em andamento é muito mais fedida do que poderia ter imaginado e extremamente mais nociva. Seja para a população do estado, seja para a imagem nacional e internacional do governo Dilma Rousseff.

Os cientistas ali reunidos já expediram ao governo federal e Ministérios atinentes, um alerta sobre a ação das empresas contratadas para os estudos de impacto ambiental desses projetos negociados durante o governo de Luís Henrique e a serem concretizados por Raimundo Colombo. Por seus próprios levantamentos, estas empresas revelam-se totalmente inidôneas. No caso da Fosfateira de Anitápolis, um exemplo já em processo prévio para início de instalação, foi contratada a mesma Caruso Jr. que desenvolveu o EIA-RIMA do megaestaleiro de Eike Batista. Desativada há décadas passadas, a primeira mineradora que tentou extrair o material naquele município na encosta da serra, conseguiu repassar a concessão para uma multinacional com a mediação do governo do estado que tem como presidente da FATMA – Fundação de Meio Ambiente, a Murilo Flores que não é técnico, mas sim político do DEM, único do partido que não se descompatibilizou do cargo governamental para se candidatar as últimas eleições, mantendo-se na gerência das providências necessárias aos licenciamentos desses projetos.

A mesma FATMA, em governo anterior determinou a inviabilidade de exploração do fosfato da região porque o processo empregado (único disponível e conhecido no mundo) para separação do fosfato do material rochoso da montanha que contém o minério, é através de tanques ácidos de alta evaporação e condensação. O que resulta em grande incidência de chuvas ácidas, altamente corrosivas à vegetação e erosivas à terra.

Naquela ocasião se registrou incidência de chuva ácida na região, vindo atingir o leste desta Ilha e a FATMA determinou a desativação da mineração que, agora, transferida a um consórcio franco-belga contratou os serviços da Caruso Jr que minimizou os riscos. Inclusive de erosões na encosta da serra, por onde o fosfato descerá por gravidade para o porto de Imbituba através de dutos. Mas os estudos da Caruso Jr não convencem aos químicos das universidades e ainda menos as populações de Imbituba e Laguna, fatalmente atingidas pelo ácido a escorrer pelas encostas erodidas da serra, caso a erosão ocasione o rompimento de algum dos grandes tanques a serem instalados entre as contenções naturais da região montanhosa.

No que se refere ao estaleiro, a despeito da UNIVALE e da UFSC ter disponibilizado pela internet um extenso estudo conjuntamente desenvolvido por décadas através de coleta de informações das comunidades pesqueiras tradicionais, além de visualização costeira por mergulho e coleta de indivíduos por arrasto nas partes mais profundas deste canal; a Caruso Jr. – Estudos Ambientais e Engenharia - preferiu realizar suas próprias pesquisas e, em menos de um ano, detectou um pouco mais do que 50 espécies de vida marinha existentes em nosso canal, contra as mais de 200 catalogadas pelos pesquisadores acadêmicos que, pelos resultados das duas pesquisas puderam notar que a empresa consultora se limitara à coleta de arrasto, ou às espécies de profundidade que são as menos utilizadas no comércio e pela culinária.

Ainda assim, 40% das espécies catalogadas no EIA-RIMA da Caruso tiveram seus nomes trocados e ao menos uma das espécies ali indicadas não existe no canal que é marítimo, e se trata de espécie de água doce, natural da Amazônia e muito utilizada como peixe ornamental de aquário.

Em razão de tamanhas falhas técnicas, questionei Murilo Flores e Paulo Monteiro, diretor da OSX, em audiência pública, sobre como poderíamos ter garantias de que a quantidade do arsênio existente no leito do canal a ser dragado, seria tão mínima quanto afirma a Caruso Jr. E expus minha preocupação de se repetir os milhares de mortes ocorridas em outras regiões do mundo, em números que relacionei numa anotação para minha mera e fraca memória. Paulo Monteiro fez questão de ver o que anotara, mesmo confessando ser apenas uma relação manuscrita: Chile tantos mortos, Canadá tantos, Bangladesh outros tantos e por aí vai. Ou seja, evidentemente o diretor da OSX não faz a menor ideia dos riscos oferecidos pelo arsênio.

Enfim, Castor, brinca-se com coisa muito séria. Séria demais e com muito maior inconsequência do que imaginei a princípio. Mas porque estou te escrevendo isso tudo?

Desde aquele seminário de 2 noites, por tudo o que ali se expôs, se propôs, se refutou e se conversou cheguei a algumas conclusões que me parecem bastante claras e tenho de comparti-las com alguém que aqui já não tenho. Não tenho, porque os companheiros do PT local perderam, com as últimas eleições, qualquer poder de influência, inclusive dentro do próprio partido dominado pelos políticos de maior destaque e que se aliaram ao PSDB através da aproximação entre Ideli Salvatti e Leonel Pavan. O PCdoB local, além de igualmente apoiado pelo PP por acordos de outra Ângela, a Albino, com os Amins, também participa do empenho político por estes projetos representando os interesses daquele grupo. Demais partidos, PSTU e PSOL, você pode imaginar o que e como sejam. Convictos de que o governo Dilma, tal qual o de Lula, quer desenvolvimento a qualquer custo, conseguiram me afastar do movimento contrário ao estaleiro, dirigido pela classe média do Jurerê Internacional e Daniela, por meu apoio à candidatura nacional do PT.

 E a partir daqui desse pequeno estado, Castor, estou muito preocupado pelos resultados dessa nossa árdua luta que envolveu tantos companheiros por todo o Brasil com os quais, ao longo destes 5 anos, vimos trocando informações e discussões, tentando desmontar a solapa ao governo Lula pela mídia e a oposição. Tenho muita clara na memória aquela imagem do Bornhausen ao lado do Fernando Henrique dando como exterminada a nossa “raça”. Desde então me dediquei a me informar sobre o histórico do Bornhausen por aqui, aproveitando que estou na terra onde se formou essa força política coronelista.

Me informei sobre seus métodos e ações desde o pai que não lhe deixou para trás nem a invejar. Entre Irineu, Jorge e Paulo Bornhausen a diferença só é de gerações, mas a cabeça é única, mantendo as tradições familiares dos alemães daqui, cuja inflexibilidade de caráter espanta até mesmo os alemães que vêm da Europa. E o outro ramo da família, Konder, ainda que um pouco menos troglodíticos, não se fazem diferentes.

Aprendi que, por mais trogloditas sejam, os Bornhausen são muito mais insidiosos do que todos os grandes coronéis nordestinos que também me interessavam quando morei por lá. Há evidentes diferenças. Lá os coronéis mandam matar e pronto. Aqui há mais sutileza: compra-se. Segundo uma amiga minha, não há político catarinense que não se venda por uma troca de mobília.

Bornhausen também poderia mandar matar como muita facilidade. Fernandinho Beira-Mar não passou uma temporada na cela da Polícia Federal daqui para fazer veraneio, mas só quando não há negociação apela para essa sua outra área de atuação.

Quando dois Ministros da Pesca, ambos daqui do estado, apoiam um empreendimento que nitidamente extinguirá a atividade na região, e o atual nega, publicamente, a existência de atividade pesqueira neste canal; fica claro haver aí uma mão de gato. Quando a candidata com praticamente todas as chances de ser eleita se sujeita a dividir votos com os Amins, desfazendo-se de forma tão óbvia da mais significativa fatia de sua militância e eleitorado, se vê aí o delinear de um projeto político mais extenso. Até a exposição no seminário da UFSC, eu só avaliava a extensão cronológica desse projeto em termos regionais, mas a grandiosidade dos empreendimentos arrolados na publicação do relatório do governo Luís Henrique me fez imaginar que tanto dinheiro não seja apenas para locupletar ainda mais a família Bornhausen e as de seus asseclas.

Desde então isso vem rebolando em minha cabeça e se misturando a imagens e fatos que estranhamente vêm se repetindo pela TV e pelos jornais dos Sirotsky. Fico me perguntando, por que Ideli de uns tempos para cá se dispõe à se apresentar ao público como tão amiga e íntima de Leonel Pavan? Claro que a gente sabe que nos bastidores não existe aquela guerra e farpas trocadas pela imprensa, mas abraços e beijos pela imprensa todo político costuma evitar da mesma forma que também buscam demonstrar alguma cordialidade para ir levando o eleitorado, mas sempre com a parcimônia necessária para não confundi-lo. O que temos aqui não é parcimônia alguma, muito pelo contrário. Pavan e Fritsch publicamente exaltam suas concordâncias, mas quando o candidato à deputado estadual e presidente do PT municipal emite nota de contrariedade a instalação do megaestaleiro, Fritsch acorre à imprensa para advertir o amigo, mais que companheiro de partido.  

Como comentou um pescador outro dia: “Tá mais difícil de reconhecer quem é quem, do que cardume de cardoso ao de sardinha”. Aí começo a reparar que essa dificuldade já é anterior à questão do estaleiro, ou antes de nos chegar informações sobre o projeto. Essa pegação já vem de bem antes e lembro de quando perguntei ao Neco sobre o que acontecera com Ideli que estava estranha comigo. Depois perguntei ao Nildão, em outra ocasião, depois de uma festa em sua casa. Neco achou ser impressão minha e Nildão conferiu aos seus problemas de coluna. Fritsch, por outro lado, foi se tornando mais próximo e mais simpático, e só concluo não haver tanta naturalidade naquilo tudo, quanto nos possa ter parecido.

Pensei em repassar essas minhas preocupações para o Nildão, mas, coitado, está tão desacorçoado com que Ideli, Vignatti, e Fritsch fizeram com ele nessas eleições, que até me constranjo em tocar no assunto. Nelson Motta demais envolvido com seu Ponto de Cultura e minha preocupação aumentando ainda mais nesta semana, quando a própria Ideli anuncia pela imprensa daqui que ficará responsável pela fiscalização das verbas regionais destinadas pelo governo Dilma. Isso lá é coisa que se anuncie logo aqui!

Me preocupa. Muito. Inclusive porque quando Ideli veio de Brasília depois daquela reunião com a Ministra do Meio Ambiente, saiu distribuindo pelo próprio twitter e toda a imprensa que Santa Catarina “ganhou” o estaleiro, porque teria convencido a Ministra a desconsiderar o parecer do ICMBIO. Pasmado, escrevi uns desaforos à Ministra e umas técnicas do ICMBIO, pedindo sigilo de seus nomes, me informaram não ter ocorrido nada do que Ideli e Andrino espalhavam, pois na verdade a Ministra apenas suspendera o processo, acertadamente esperando passar o momento político. Mais tarde a imprensa local, por manobra de não sei quem, anunciou que o Ministério transferira a decisão para a FATMA. Outra mentira, mas que não percebi qualquer esforço da Ideli por desmentir.

Quando ameacei colocar o pessoal para se manifestar na carreata da Dilma, ainda no primeiro turno (foi apenas uma jogada, pois sabia que não iria dar resultado), veio um assessor da Ideli dizendo que “ela não pediu, me mandou falar contigo”. Papo furado que cortei de imediato:  “Não é comigo! Vocês tem de falar é com os pescadores que iriam votar na Ideli. Vão lá ver se revertem.” Hoje me arrependo do sangue quente na hora. Deveria ter ouvido o que tinham a dizer.

Mas estou com um elefante atrás da orelha, Castor, e não tenho a quem pedir que se tenha algum contato dentro do governo Dilma, ou qualquer aproximação dentro do PT, que alerte para manterem o olho bastante aberto com esses catarinenses. Já pensei no Laerte, no Adauto, mas não conheço nenhum deles e já tomei bronca de petistas que se incomodam pelas minhas carraspanas no Gregolin e na Ideli. Não tenho saco com esses xiitas do PT, tão abilolados quanto os leitores de Veja. De forma que só tenho você para expor essa minha preocupação na esperança que a repasse para alguém com condições de recomendar uma observação mais afinada do grupo.

Pode ser excesso de zelos meus, mas, “sei não” – como dizia o personagem de Adoniran Barbosa no filme O Cangaceiro.

Desculpe o extenso do escrito, mas precisava explicar ser detalhado para que você ter ideia da dimensão e das razões de minhas preocupações com o futuro do governo Dilma, no que se refere à Santa Catarina. Um estado tão pequeno, mas terra e refúgio do último dos coronéis. E dos piores coronéis, pois mil vezes mais aqueles dos jagunços do que esse de tanta mobilidade junto à Aznar e Uribe. Acho que todo cuidado é pouco para não vermos repetir a daqui há 3 ou 4 anos o mesmo processo que com tanto esforço tivemos de desmontar para reeleger Lula e eleger Dilma. Como disse Serra: a luta continua.

Abraço grande.
Raul

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