quinta-feira, 19 de maio de 2011

Discurso ridículo! Obama sobre a questão israelense

Comentário do Coletivo da Vila Vudu

O Gato Filósofo da Vila Vudu em terapia
O que o jornal O Globo tem a dizer sobre o discurso de Obama, ontem, pode ser lido em: Israel e Hamas rejeitam discurso de Obama e é um amontoado de “declarações” tolas, copiadas da imprensa internacional de repetição e selecionados por critérios de “jornalismo” vicioso, de má qualidade.

De importante, no discurso de Obama sobre a questão israelense só, que (1) Obama reconheceu oficialmente o “estado judeu”.

Doravante, portanto, se não reconhecer os estados islâmicos... confirma-se o que todos sabem e nenhuma imprensa noticia: o Pentágono, a OTAN, os EUA de Obama & AIPAC e a Rede Globo entendem que “estado judeu” pode; mas “estado muçulmano” fere o princípio iluminista da separação entre religião e estado. A enganação “jornalística”  prossegue, ampla, geral e irrestrita.

Obama disse também, claramente, que (2) os EUA impedirão, na ONU, qualquer tentativa de conseguir que a Assembleia Geral, em setembro, reconheça o estado palestino. Disse claramente. Só não se sabe COMO impedirão, mas que disse que impedirão, disse.

Disse também, espantosa  e claramente, que (3) nada impede que se crie uma Israel inviável e uma Palestina insegura (Obama só fez repetir que deve haver “uma Israel segura” e “uma Palestina viável”, logo...). Duplifalar, na veia!

Depois, como se até aí tivesse havido impressionante reconhecimento de “fatos” com os quais toda a humanidade “naturalmente” concordasse, Obama atreveu-se, encolhidamente, a dar um leve puxão de orelhinhas em Israel. Disse que (4) “Israel terá de defender-se ela mesma”. E mesmo isso, que não passa de frase oca e jamais acontecerá, custará muuuito caro a Obama. Difícil entender, até, porque disse isso. Por quê?

Difícil imaginar discurso – e posições! – mais absolutamente sem rumo, sem projeto, sem plano, construído sem espinha dorsal, espécie de coleção de frases feitas repetidas, pensadas, talvez, para “a mídia”. Obama começa a fazer papel ridículo. Armado até os dentes e Prêmio Nobel da Paz, e ridículo, convencido que engana todos, todo o tempo, quando já se vê que ou é perfeito tonto, ou, sim, pensa que engana todos, todo o tempo. 

Obama disse também que (5) o terrorismo foi varrido do mundo (provavelmente pela encenação de assassinato de Osama bin Laden pelos SEALs, a que Obama fingiu que assistiu, como se viu, pela televisão). Disse, claramente, que Israel deve impedir “o ressurgimento” do terrorismo. Se não se pode deixar que “ressurja”... é porque (a) bin Laden era o único terrorista do mundo e (b) dado que os SEALs fingiram que mataram em 2011, o cara que morreu de doença, em 2001... o terrorismo foi varrido do mundo. Tá provado!  

E, para não deixar nenhum assunto sem comentário, como executivo de Relações Públicas, que vai burocraticamente “ticando”  itens de uma agenda “midiática”, disse que o recente acordo de unificação política dos palestinos “é assunto de legítima preocupação para Israel”. Melhor, claro, que os palestinos se engalfinhassem em luta de morte, lá entre eles. Mas já que não se engalfinharam, nem se autovarreram da face da Terra... “cabe aos palestinos” explicar a Israel porque não se autovarreram da face da Terra e optaram por unir-se. Claro. Faz sentido. Claro. É.
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Excerto do que Obama realmente disse de importante sobre “a questão israelense” e O Globo não publicou foi:

“Num momento em que o povo do Oriente Médio e do Norte da África livra-se do peso do passado, a exigência de paz duradoura, que ponha fim ao conflito e atenda todos os clamores é mais urgente que nunca.

Para os palestinos, terminarão em fracassos os esforços para deslegitimar Israel. Ações simbólicas para isolar Israel na ONU em setembro não criarão um estado independente. Os líderes palestinos não chegarão à paz e à prosperidade, se o Hamás insistir na via do terror e da rejeição. E os palestinos jamais farão sua independência negando a Israel o direito de existir.

Quanto a Israel, nossa amizade tem raízes profunda, que se prendem profundamente numa história partilhada e em valores partilhados. Nosso compromisso com a segurança de Israel é inabalável. E nos levantaremos contra tentativas de isolar Israel, tornando-a alvo de críticas nos fóruns internacionais. Mas precisamente por causa de nossa amizade, é importante dizer a verdade: o status quo é insustentável, e Israel deve também agir com firmeza na direção de uma paz duradoura.

O fato é que muitos palestinos vivem na margem oeste do rio Jordão. A tecnologia tornará cada vez mais difícil que Israel defenda-se. Uma região que passa por mudanças profundas levará ao populismo, no qual milhões de pessoas – não apenas alguns líderes – devem crer que a paz é possível. A comunidade internacional está cansada de um processo infindável que jamais produz qualquer resultado. O sonho de um estado judeu e democrático não pode ser realizado mediante ocupação permanente.

Em última instância, cabe aos israelenses e palestinos entrarem em ação. Nenhuma paz lhes pode ser imposta, nem o adiamento eterno jamais fará desaparecer o problema. Mas o que os EUA e a comunidade internacional podem fazer é declarar com franqueza o que todos sabem: uma paz duradoura implicará dois estados para dois povos. Israel como estado judeu e pátria do povo judeu, e o estado da Palestina, como lar do povo palestino. Dois estados que se autodeterminarão, reconhecer-se-ão mutuamente e viverão em paz.

Assim, enquanto as questões centrais do conflito devem ser negociadas, a base dessa negociação é clara: uma Palestina viável e uma Israel segura. Os EUA creem que as negociações devem resultar em dois estados, com fronteiras palestinas estáveis e permanentes com Israel, Jordânia e Egito e fronteiras israelenses permanentes com a Palestina. As fronteiras entre Israel e Palestina devem basear-se nas linhas de 1967, com trocas [de território] a serem acordadas, de modo que se estabeleçam fronteiras reconhecidas e seguras para os dois estados. O povo palestino deve ter o direito de se autogovernar e expandir seu potencial, em estado contínuo e soberano.

Quanto à segurança, todos os estados têm direito de autodefesa, e Israel deve ser capaz de se autodefender – sozinha [orig. “by itself]” – contra qualquer ameaça. Deve haver providências suficientemente robustas para evitar o ressurgimento do terrorismo; para por fim à entrada de armas; e para que haja efetiva segurança nas fronteiras. A retirada total e gradual [ing. “The full and phased withdrawal] das forças militares de Israel deve ser coordenada com a assunção da plena responsabilidade pelos palestinos, em estado soberano não militarizado. A duração desse período de transição deve ser acordada, e a efetividade dos arranjos de segurança deve ser demonstrada.

Esses princípios oferecem uma base para negociações. Os palestinos devem conhecer os limites territoriais de seu estado; os israelenses devem saber que precisam resolver suas questões básicas de segurança. Sei que esses passos, só eles, não resolvem esse conflito. Permanecem duas questões emocionais em disputa: o futuro de Jerusalém, e o destino dos refugiados palestinos. Mas, fazendo avançar agora a questão territorial e da segurança, oferece uma base para resolver essas duas oautras questões de modo justo e equilibrado, e que respeite os direitos e aspirações de israelenses e palestinos.

Reconhecer que as negociações devem começar pelas questões de território e segurança não significa que será fácil voltar à mesa de negociações. Em particular, o recente anúncio de um acordo entre Fatah e Hamas gera preocupações profundas e legítimas para Israel – como se pode negociar com um partido que se mostrou pouco disposto a reconhecer seu direito de existir? Nas próximas semanas, os líderes palestinos deverão apresentar resposta crível a essa pergunta. Enquanto isso, os EUA, nossos parceiros do Quarteto e os estados árabes terão de continuar a esforçar-se para superar o atual impasse.” 

(“Discurso de Barack Obama sobre o Oriente Médio”, 19/5/2011, Guardian, UK - transcrição integral que se lê, em inglês).

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