segunda-feira, 9 de maio de 2011

Presidente do Fed delineia política de guerra de classes

Por Andre Damon em 5 de maio de 2011
Traduzido pelo WSWS
 
 
O presidente do Banco Central Americano (Federal Reserve - Fed), Ben Bernanke, participou de uma coletiva de imprensa na quarta-feira, na qual ele mostrou sinais de uma intensificação da política econômica predatória da classe dominante: a desvalorização do dólar, alto desemprego e um ataque mais extensivo à classe trabalhadora.

As manchetes de jornais de quarta-feira apresentaram os resultados dessa política: o mercado de ações atingiu a maior alta dos últimos dez anos, o preço do ouro atingiu um novo recorde e o dólar americano chegou próximo do nível mais baixo que já atingira anteriormente.

A coletiva de imprensa com Bernanke - a primeira vez em que um presidente do Fed respondeu a uma bateria de perguntas da mídia - ocorreu após um encontro do Comitê Federal de Mercado Aberto, que publicou uma declaração horas antes afirmando seu compromisso de concluir a extraordinária compra de títulos, chamada QE2 (quantitative easing - flexibilização quantitativa), até junho, como havia anunciado anteriormente.

O comitê também rebaixou suas previsões econômicas para 2011, esperando mais desemprego, maior inflação e um crescimento mais lento do que havia previsto anteriormente. Os economistas aguardam um anúncio do departamento de comércio na quinta-feira de um crescimento de 2% da economia americana no primeiro trimestre de 2011, comparado ao de 3,4% do quarto trimestre do ano passado e 4,5% do terceiro trimestre.

Bernanke apontou uma série de causas para a esperada desaceleração, incluindo as baixas nas exportações, as intempéries meteorológicas e a queda continuada do mercado imobiliário. Notavelmente, ele não incluiu os cortes de orçamento federais, estaduais ou municipais na sua lista de causas. Mais tarde ele disse explicitamente que, em sua opinião, o efeito dos cortes de gastos do governo havia sido irrelevante ao crescimento econômico.

Geralmente reservado em suas apologias à austeridade fiscal, Bernanke elogiou indubitavelmente os cortes de orçamento que estão sendo discutidos pelo Congresso. Disse ele que resolver o deficit é a questão mais importante para o país, e disse também que era grato pelo fato de o Congresso ter levado a sério essa discussão.

Ele não apresentou nada além de elogios à atitude, na semana passada, da Standard & Poor's, a agência de avaliação de dívidas, a rebaixar as perspectivas para a dívida soberana dos EUA, dizendo que ele esperava que o rebaixamento fosse pressionar os legisladores a reduzir a dívida federal.

Em resposta à declaração de Bernanke, um repórter disse: “Nos últimos tempos houve situações em que a política fiscal apertava e o Fed optava por afrouxar sua política em resposta”. O repórter apontou para o impacto desastroso das medidas de austeridade sobre a economia britânica, e perguntou se o Fed poderia fazer qualquer coisa para prevenir um resultado parecido.

Bernanke respondeu categoricamente: “Os cortes que foram feitos até agora não nos parecem ter produzido consequências significativas para a atividade econômica a curto prazo”, uma declaração que entrou em flagrante contradição com a desaceleração econômica que Bernanke dizia que seria refletida nos índices do primeiro trimestre. Os funcionários do Fed disseram que esperavam um crescimento do produto interno bruto americano na faixa de 3,1-3,3% em 2011, porcentagem bem abaixo de suas estimativas anteriores de 3,4-3,9%. Também disseram que a expectativa de inflação é de 2,1-2,8% neste ano, comparados ao 1,3% a 1,7% da estimativa anterior.

Bernanke apresentou todas as suas medidas que se encaixam dentro da margem de preservação do “mandato duplo” do Fed: baixo desemprego e estabilidade de preços. Mas, na realidade, o baixo desemprego não poderia estar mais distante da cabeça do presidente do Fed. Seu verdadeiro objetivo é escorar os lucros financeiros com dinheiro fácil, empobrecer os trabalhadores por meio do desemprego e da inflação e levar adiante uma guerra comercial contra os rivais dos EUA ao desvalorizar o dólar.

Quando questionado por um repórter por que o Fed fora incapaz de abaixar o índice de desemprego mais rapidamente, Bernanke disse que a resposta do Fed fora “bem agressiva”. Essa declaração não passou de um falso amálgama entre os trilhões de dólares de dinheiro de resgate dado aos bancos e o objetivo aparente de diminuir o desemprego. Mas, ao invés de contratarem, as empresas embolsaram o dinheiro ou usaram-no para apostar em ações e commodities.

A coletiva de imprensa aconteceu em meio a um drástico aumento no preço dos alimentos e do gás. Os preços mundiais de alimentos subiram 36% no ano passado, de acordo com o Programa Alimentar Mundial, e o preço da gasolina nos postos dos EUA aumentou em um dólar no mesmo período.

A inflação total dos EUA nos últimos 12 meses foi de 2,7%, de acordo com os números do Índice de Preços ao Consumidor do Escritório de Estatísticas do Trabalho, o qual enfrenta sérias críticas por atenuar o aumento nos preços da energia e dos alimentos.

Bernanke disse que “quase todo” o aumento no preço do combustível nos últimos anos deu-se por duas causas: o conflito político no Oriente Médio e a crescente demanda dos países em desenvolvimento. Na prática, Bernanke descartou qualquer contribuição por parte da política expansionista do Fed, a qual inundou a economia mundial com dinheiro e facilitou um aumento mundial da especulação.

O dólar americano caiu quase 17% em relação a outras moedas desde junho, atingindo a pior baixa dos últimos dois anos e meio na quarta-feira passada e chegando perto de seu valor mais baixo na história. Bernanke procurou atenuar acusações de que o Fed estaria desvalorizando o dólar de maneira competitiva como um estímulo predatório à indústria americana, dizendo: “O Fed acredita que um dólar forte e estável é dos melhores interesses dos EUA e do interesse da economia mundial”.

Em novembro de 2010, o Fed anunciou que iria comprar US$ 600 bilhões em títulos do tesouro, além dos ativos já presentes em seus livros, na tentativa de expandir a oferta de dinheiro para além do “piso” criado pela taxa quase zero dos fundos federais. O Fed já havia indicado que iria concluir o programa em junho, e confirmado seus planos com a divulgação da declaração do Comitê Federal de Mercado Aberto.

Bernanke insistiu que a finalização programada do programa de compra de ativos do Fed não constituía uma forma de aperto fiscal, uma vez que o Fed não venderia os ativos que comprara, mas continuaria a mantê-los em seus livros. Ele disse que, caso o Fed quisesse apertar a oferta de dinheiro, ele o faria vendendo títulos e ativos do tesouro que ele havia comprado. O presidente do Fed recusou-se a especificar quando ele pensava que tal aperto monetário ocorreria.

A coletiva de imprensa de Bernanke sinaliza uma continuidade da política parasita da classe dominante americana. Os EUA continuarão a inundar a economia mundial com dinheiro, alimentando a inflação mundial, disparando os preços de energia, dos alimentos e toda a miséria que disso advém.

Ao mesmo tempo, Bernanke anunciou, mais explicitamente do que qualquer outro presidente do Banco Central Americano antes dele, seu apoio à austeridade, mesmo que os planos que ele apoia ameacem afundar a economia dos EUA em uma segunda recessão, jogando mais milhões de pessoas no desemprego e na miséria.

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