domingo, 26 de junho de 2011

Humala e Cabral, dois extremos


Publicado em 26/06/2011 por Mário Augusto Jakobskind

Se alguém ainda tinha dúvidas sobre as transformações que estão a ocorrer no continente americano, o vizinho Peru pode servir de exemplo concreto sobre este novo tempo que desagrada os setores conservadores. Até bem pouco tempo, a Aliança Popular Revolucionária Americana, mais conhecida como Apra, o partido do atual Presidente Alan Garcia, mandava e desmandava. Mas nas últimas eleições teve um resultado pífio só conseguindo eleger quatro deputados. Ou seja, nem poderá formar um bloco parlamentar e consequentemente não terá forças para continuar dando as cartas políticas, como fazia anos atrás.

O partido de Alan Garcia tem raízes históricas, mas nem por isso conseguiu sobreviver aos novos tempos no país, que acabou resultando na eleição de Ollanta Humala. Vinculado à socialdemocracia, que hoje passou a ser uma linha auxiliar dos apologistas do esquema neoliberal e do deus mercado, a Apra colheu os frutos de sua prática, imaginando sempre que o processo político é imutável.

O exemplo peruano deve servir de reflexão não apenas para cúpulas partidárias que sucumbem à burocracia, transformando as suas agremiações políticas em meros departamentos cartoriais, como a políticos que imaginam estar acima do bem e do mal. No Brasil já temos exemplos, sobretudo à direita, mas de alguns partidos de esquerda, ou que se julgam de esquerda, embora nos últimos tempos venham adotando práticas diferenciadas do que defendiam antes.

Em termos regionais, o exemplo mais elucidativo está a ocorrer no Rio de Janeiro, onde partidos que se consideram de esquerda apoiam um governador, Sergio Cabral que reprime violentamente bombeiros que ganham salários de fome e ainda por cima concede as maiores facilidades para empresários em troca de favores especiais.

Já se imaginava que isso acontecia, embora a opinião pública estivesse iludida, como nas eleições de outubro do ano passado, quando sufragou Cabral por maioria absoluta. Agora, depois de uma tragédia em que morreram sete pessoas na queda de um helicóptero na Bahia, caiu a máscara. Isso tem um nome: promiscuidade. Ou será que tem outra denominação o fato de um governador estar usufruindo das benesses de um empresário, como Fernando Cavendish, proprietário da construtora Delta, a empreiteira responsável pela reforma milionária do Maracanã em associação com as do mesmo ramo Odebrecht e Andrade Gutierrez?

Escondendo o jogo, como faz sempre, Cabral foi a Bahia para participar de uma festa milionária de Cavenish, a quem presta favores. E o que dizer em pegar carona a hora que quiser no avião do trilionário Eike Batista? O empresário e o governador acham isso perfeitamente normal.

Há denúncias segundo as quais o governo Sergio Cabral está fazendo obras no Estado sem concorrência pública, o que mereceria pelo menos uma investigação mais apurada da Assembleia Legislativa e do Ministério Público.

Em outros países, por muito menos,  governos caíram porque os chefes do Poder Executivo se envolveram em jogadas prejudiciais ao Estado.

Cabral tem maioria na Assembleia Legislativa e dificilmente se conseguirá algum tipo de ação, salvo se a opinião pública se mobilizar e exigir, pois, afinal de contas, o Estado é responsável em gerir os impostos arrecadados de honestos cidadãos contribuintes.

O momento é grave. O Rio está na antevéspera de dois megaeventos que vão lidar com muitos milhões. Tudo agora gira em torno disso, inclusive no âmbito da Prefeitura, onde o alcaide Eduardo Paes está aprontando, como, por exemplo, promovendo  remoções de favelas que não estão em área de risco, mas são cobiçadas pela especulação imobiliária há tempos. O Morro dos Prazeres, em Santa Tereza, que o diga. E perguntem também que grupos econômicos apoiaram Paes.

Aliás, que pouca sorte tem o Rio de Janeiro. Depois de um Cesar Maia aparece um Paes. E um Maia que responde na Justiça pelo que foi feito na Cidade da Música, na Barra da Tijuca, que ainda por cima ganhou o nome de Roberto Marinho, um cidadão acima de qualquer suspeita, mas que em nenhum momento teve algum envolvimento com a música, seja clássica ou popular, salvo as editorias de cultura de seus meios de comunicação.

Maia imaginava que colocando o nome do finado proprietário das Organizações Globo poderia tudo que fez de errado ficar por isso mesmo. Mas como as denúncias se avolumaram, Cesar Maia terá de responder na Justiça as acusações de ilegalidades cometidas  na Cidade da Música.

O Rio de Janeiro, claro, merecia coisa melhor, mas como a região historicamente sempre primou pela resistência, embora nos últimos tempos, Cabral, Paes e antes Maia, para não falar em tempos mais distantes de Moreira Franco e Marcelo Alencar, que ocuparam o espaço político, transformando a área em uma verdadeira vergonha nacional, não se descarta que em algum momento o povo desperte e exija que sejam tomadas providências enérgicas para acabar com o atual estado de coisas. O integral apoio popular aos bombeiros vitimados por Cabral foi um aviso,.

No Peru, o esquema meliante de Fujimori foi derrotado nas urnas e o partido de Alan Garcia, que apoiou a filha do ex-Presidente, a Keiko Fujimori, sofreu um revés sem precedentes históricos, que não imaginava poderia acontecer. Nos tempos de transformações porque passa o continente americano, não pode mais haver lugar para tipos como Alan Garcia, Alberto Fujimori, Cabral, Paes, ou Maia, muito menos para Moreira Franco, que virou Ministro de Assuntos Estratégicos, embora já se conheça há tempos que tipo de estratégia ela adota no seu fazer político.

Ah, sim, neste time fica faltando o chileno Sebastián Piñera, que conseguiu se eleger depois da falência do esquema da Concertación, mas, segundo as pesquisas, já é repudiado pela maioria da população.


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