domingo, 28 de agosto de 2011

Jornalista, em Kabul, Afeganistão... pede dinheiro aos EUA para suas publicações


Comentário entreouvido na Vila Vudu:

WikiLeaks faz, hoje, o melhor jornalismo do mundo: a fonte fala o que bem entenda e ninguém altera nem reescreve ou edita o que a fonte diga, nem o Grupo GAFE (Globo-Abril-Folha-Estadão) paga a nenhum “jornalista especialista” empregado para que acrescente as suas opiniõezinhas pessoais ao que a fonte diga, para dirigir a interpretação do que a fonte diga... Até que a fonte já esteja “dizendo” o que nunca lhe passou pela cabeça dizer. 

Por que, diabos, os jornalistas e colunistas empregados de jornais-empresas supõem que suas opiniõezinhas sejam sempre tão importantíssimas e indispensáveis? 

No caso do Grupo GAFE (Globo-Abril-Folha-Estadão) no Brasil, essa questão é ainda mais misteriosa, porque todas as opiniõezinhas de todos os jornalistas empregados do Grupo GAFE são conhecidas de todos – repetidas sem parar, seja qual for o fato que se esconda sob cada opiniãozinha de jornalista-colunista, ou que cada jornalista-colunista ponha-se a inventar.  

Os jornais do Grupo GAFE não existem para apresentar à opinião pública brasileira qualquer tipo de opinião nova, que, pela novidade, estimulasse o pensamento e a reflexão: eles existem para repetir, incansavelmente – como manda a lei de ouro da propaganda de fascistização da opinião pública – sempre as MESMAS opiniões, sempre dos MESMOS jornalistas e fontes (sempre dos mesmos “institutos” ou “universidades” ou empresas de “consultoria” e sempre os mesmos diplomatas de governos não eleitos, hoje ou desempregados ou empregados da FIESP ou da FEBRABAN ou de universidades privadas, e dizendo todos, sempre, a MESMA (velha) coisa.

WikiLeaks já provou que NENHUMA opiniãozinha de jornalista ou colunista ou comentarista empregados pode ser mais fidedigna que uma fonte empenhadíssima, por lei e por profissão, em relatar suuuuuper minuciosa e acuradamente, os, afinal de contas, únicos fatos sobre cuja ocorrência e significação não paira NENHUMA dúvida. 

No Brasil, a notícia abaixo JAMAIS seria publicada. 

O Brasil é o único país do mundo em que o quarto de hotel em que se hospeda um “poderosíssimo” ex-ministro de Estado é invadido por jornalista-assaltante; a blogaria divulga o crime e ri gostosamente do caso (“E o Cerra, lá, implorando: me invadam, me invadam!” – como se leu ontem no Twitter); conhecem-se nome, sobrenome, RG e CPF do jornalista-assaltante, endereço do trabalho onde pode ser facilmente encontrado e minuciosa narração do assalto; a polícia sabe de tudo; já há boletim de ocorrência policial em que a vítima relatou à autoridade policial o crime. Mas o crime não aparece noticiado em NENHUM jornal da “grande” imprensa, por mais que a “grande” imprensa brasileira só saiba ensinar crimes (dos outros, nunca os seus) à população. 

No Brasil, esse assalto à boa fé dos leitores-consumidores é escandaloso, ostensivo, à luz do dia, tunga e mais tunga ao dinheiro do leitor-consumidor adimplente, que paga para receber informação e só recebe propaganda política “marketada”, sem que nenhum “direito do consumidor” seja assegurado aos consumidores pagantes de jornais e revistas, por nenhuma lei. Até quando?!

O Brasil também é país em que a Constituição assegura “direito de livre manifestação” só pra uns poucos e simultaneamente cassa o direito de livre manifestação da vastíssima maioria dos consumidores de jornais e televisões pagas. 

A Constituição do Brasil diz “é livre o direito de manifestação”, e os empresários da “cumunicação” no Brasil dizem: “No meu jornal, NUNCA! Na minha televisão, never! No meu blog, núncaras!” E fica por isso mesmo? Até quando?!

O Brasil também é país em que os partidos políticos (todos, até os pressupostos mais progressistas) tanto temem a chantagem da imprensa assassina de reputações, que vivem a inventar meios para fugir do dever de modificar a lei oca e ineficaz (além de fascistizante). Até quando?!

Ah! E quem ainda suponha que algum “direito das mulheres” estaria adequadamente defendido, em Kabul, por imprensa paga pelos EUA – embaixada e soldados que toooodas as mulheres de Kabul, como seus homens, só querem ver longe de Kabul e o mais rapidamente possível –, pare e repense tudo: o mais provável é que aquelas cabeças também já tenham sido arrendadas (mas... sem pagamento?!) à embaixada dos EUA... em Kabul (e pelaí, pelo mundo inteiro). Até quando?!

Aí vai, então, o bom jornalismo de WikiLeaks. É ler e rir do jornalismo-empresa-que-há [1]– idêntico tanto do Afeganistão quanto no bairro do Limão em São Paulo, na Rua Barão de Limeira, no Jardim Botânico, na Avenida Marginal em São Paulo e em inúmeras outras latitudes e longitudes, e que, diariamente, assalta a boa-fé de leitores-consumidores pagantes e adimplentes.

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[cabeçalho aqui omitido]
ASSUNTO: Jornalista que ajudamos a tirar da cadeia pede-nos dinheiro 

Traduzido e comentado pelo pessoal da Vila Vudu
  
1. (SBU) RESUMO: A/DCM e funcionários dessa embaixada encontraram-se com o jornalista Ali  Mohaqeq Nasab. Ele agradeceu os esforços da embaixada para influenciar na direção de que fosse libertado e pediu quantia substancial de dinheiro para publicar sua revista de direitos da mulher e outras empreitadas. O dinheiro que ele nos pede para seus projetos está muito além do limitado orçamento dessa embaixada. O encarregado de informação dessa Embaixada explicou o tipo de financiamento que poderíamos oferecer nos termos de nossa programação em andamento. FIM DO RESUMO.   

2. (U) Dia 19 de janeiro, funcionários dessa Embaixada encontraram-se com Ali Mohaqeq Nasab, editor da revistaHoqoq-e-Zan, de direitos da mulher. No outono passado, Nasab foi preso e acusado de publicar material anti-islâmico. Foi condenado a dois anos de prisão, mas a sentença foi reformada para seis meses, por uma corte de apelação e libertado dia 21 de dezembro. Nasab  disse que não voltou a ser incomodado depois da soltura, e que, de fato, tornou-se uma espécie de celebridade. Foi procurado por vários membros moderados da comunidade islâmica, que manifestaram-lhe apoio. Sua revista recebeu autorização para ser publicada, mas sem que seu nome apareça como editor-chefe. No momento, aguarda decisão de uma apelação que encaminhou contra essa decisão, ao Ministério para a Informação, Cultura e Turismo do Afeganistão.   

2. (SBU) Nasab pediu que o Governo dos EUA lhe garanta fundos para os seguintes quatro projetos; argumenta que seus projetos conseguirão contrabalançar a influência do Irã no Afeganistão e garantiu que têm o apoio de muçulmanos moderados. Os projetos são:  

– um Centro Islâmico de Ciência: 30 clérigos muçulmanos moderados, pesquisarão várias seitas islâmicas e produzirão estudos em que se manifestará o ponto de vista islâmico “verdadeiro” nos campos da política, de relações internacionais e de relações entre todas as religiões. O custo estimado desse projeto é 400 mil dólares/ano.

– reinício da publicação da revista Hoqoq-e-Zan: apesar de a revista ter sido autorizada para publicação, Nasab diz que precisará de apoio financeiro para voltar a publicá-la, porque a antiga organização financiadora (uma ONG internacional) já não tem meios para financiar a publicação.

– um Centro Social para intelectuais islâmicos: Nasab planeja recrutar 1.000 intelectuais islâmicos, pagando a cada um salário mensal de 100 dólares. Serão formados vários comitês para explorar várias questões islâmicas – entre os quais um comitê para jornalistas e outro para estudantes. E

– publicação de livros: Nasab é autor de quatro livros sobre o Islã e precisa de financiamento dos EUA para publicá-los.

3. (SBU) Nasab sugeriu que a ajuda dos EUA aos seus projetos contribuirá para contrabalançar a influência do Irã no Afeganistão. Alega que centenas, se não milhares, de intelectuais religiosos afegãos foram estudar no Irã e que isso está corrompendo as tradições religiosas afegãs. A/DCM informou Nassab que o governo dos EUA tem verba limitada para construir capacidade na imprensa [sic]; o encarregado de informação dessa embaixada falou-lhe dos vários programas de intercâmbio e assistência técnica disponíveis para jornalistas.   

4. (SBU) COMENTÁRIO: A prisão de Nasab e sua soltura tiveram ampla repercussão nos jornais. Depois de solto, ele parece tentar capitalizar a favor de seus negócios a fama repentina. Paguemos ou não, ele continuará a procurar meios para financiar seus projetos. FIM DO COMENTÁRIO. [assina] NORLAND




Nota dos tradutores

[1] Matéria sobre o mesmo assunto, foi publicada no Washington Post, em: Afghan Journalist to Be Freed  (em inglês). O Washington Post nada diz sobre o “jornalista” ter pedido uma montanha de dólares aos EUA para suas revistas e ONGs.

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