segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

“#Occucopter”: Jornalistas-cidadãos querem “#OCCUPY” a televisão


Sean Captain

6/1/2011, Sean Captain, Wired-Occupy
 Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

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Começou como quase nada: um vídeo-blogueiro comprou um helicóptero de brinquedo.

Tim Pool, jornalista-cidadão, mostra seu avião-robô modificado, chamado “Occucóptero” [orig. Occucopter], que tornará a cobertura aérea de eventos acessível a repórteres do jornalismo-cidadão (Foto: Sean Captain).

Mas o vídeo-blogueiro é Tim Pool, 25 anos – jornalista internacionalmente conhecido que atrai dezenas de milhares de visitantes para suas transmissões ao vivo das manifestações em New York, Los Angeles e outras cidades. (As imagens que distribui e seus arquivos são também retransmitidas por redes da imprensa-empresa, como a NBC.) Tim e seus parceiros esperam que o helicóptero de brinquedo – um Parrot AR Drone de 300 dólares – seja mais um passo em direção a uma rede alternativa de notícias, comandada pelos usuários, não pelas empresas de comunicação e redes-empresa de notícias.

Além de ter trazido para as conversas de rua a expressão “assembleia geral” e “somos os 99%”, o movimento Occupy Wall Street também pôs em circulação a expressão “livestreaming” (que não é “transmissão ao vivo”, como das redes comerciais de notícias, porque é “transmissão ao vivo”, mas feita pelos próprios participantes de grandes eventos públicos). Novos repórteres em ascensão – até agora conhecidos só pelo bom uso que sabem dar ao Twitter e Ustream – como Pool (timcast) em New York City e Spencer Mills (oakfosho) em Oakland são correspondentes apaixonados, profundamente incorporados nos grupos cujas atividades noticiam – às vezes em convivência direta por 12 horas ininterruptas e até mais, como se estendam as manifestações, as assembleias gerais e outros eventos de Occupy. Sem satélites, fazem cobertura para “TV” com smarphones equipados com 3G e 4G, em redes de vídeo como Ustream.com e Livestream.com.

São como encarnações dos personagens da história em quadrinhos online The Shooting War (de Jimmy Burns, Anthony Lappé e Dan Goldman, de 2006, sobre um vídeo-blogger que fica famoso ao cobrir, antes de toda a mídia, um ataque terrorista gigante numa loja Starbucks no Brooklyn).

O que todos esses repórteres descobriram é um modo viável de cobrir grandes eventos, sem sair do chão. Agora, exploram alternativas ultra baratas, que já estão concorrendo com os novos helicópteros de centenas de milhares de dólares que as grandes redes comerciais usam para cobrir eventos públicos; e já podem cobrir extensamente os grandes eventos em andamento nas grandes cidades dos EUA, as passeatas e os choques com a polícia. Ao mesmo tempo, os vídeo-blogueiros estão descobrindo até onde pode ir essa tecnologia que o consumidor poderá manejar, e o muito que ainda falta fazer.
Como as câmeras de vídeo de alta definição que já são incluídas nos telefones celulares, também os aviões comandados a distância usados para vigilância aérea já evoluíram, de equipamentos ultra sofisticados e caríssimos, para aviõezinhos de brinquedo, de preço bem acessível. O que um dia foi item do orçamento do Pentágono, já está sendo vendido hoje nas lojas de brinquedo, em versão simplificada, pelo menos.

“O AR Drone foi o primeiro desses brinquedos que foi posto a venda” – diz Sam Shapiro, 24 anos, programador morador do Brooklyn, que ajuda Pool a montar sua rede hacker de produção de imagens aéreas para os noticiários distribuídos por movimentos Occupy.

Embora trabalhe na divulgação dos objetivos do movimento Occupy, Shapiro diz que não se vê como um dos manifestantes, nem se identifica com eles. Mas que, sim, quer usar o que sabe sobre tecnologia, para garantir a maior segurança possível aos manifestantes.

“Envolvi-me nisso, porque vi a passeata na Ponte do Brooklyn” – conta ele, falando da marcha do dia 1/10, quando foram presos mais de 700 manifestantes, cujas imagens foram transmitidas de dentro da multidão, e fizeram história em todo o mundo. “Não posso envolver-me nessas coisas, mas não quero ver meus amigos sendo espancados, só porque não têm informação tática sobre o que esteja para acontecer.”

Shapiro começou a construir um website que reuniria todas as imagens transmitidas em tempo real [orig. live feeds] pelas câmeras que controlam o tráfego em New York, e que todos podem acessar. ”Meio que mudei de ideia, no meio desse projeto. Passei a me interessar mais por ampliar a cobertura, como ter câmeras onde mais interessava, como permitir que as pessoas construíssem redes que lhes permitisse prever o que viria adiante, nas passeatas, em vez de andarem em frente, sem ter ideia do que encontrariam” – conta ele.

O AR Drone é um brinquedo vendido por US$ 300, mas é "hackeável" 

Como Pool, Shapiro também viu no avião comandado por controle remoto AR Drone, um bom começo. Os dois chegaram à mesma conclusão por vias independentes, e só se encontraram quando Pool pediu ajuda, num postado pelo Twitter, para construir um website.

Criado em 2010, o drone de espuma, que pesa 0,5 kg e é vendido em lojas de brinquedo, tem quatro rotores e inúmeros sensores que lhe dão estabilidade e o tornam navegável. Em vários sentidos, é como um iPhone, com acelerômetros e um giroscópio para medir o movimento e a localização, por exemplo. Parrot, o fabricante, garante que pode alcançar 15m de altitude, velocidade de 17km/h e carga para permanecer no ar por cerca de 12 minutos.

Wi-Fi instalados no corpo do brinquedo permite controlá-lo por um telefone iPhone ou Android. Os Wi-Fi também enviam vídeos de resolução média (640-480 pixels) para o telefone.

Mas o que interessa ao jornalismo cidadão é transmitir de um Smartphone, não receber imagens. Pool e Shapiro imaginaram introduzir uma pequena alteração no software – usando o software para usuários da empresa e um programa de captura de tela. Virou um pesadelo.

Em teoria, a empresa Parrot estimula as “intervenções”, com um kit para programadores e amostras de programas para controlar o brinquedo. “Mas o programa para Windows absolutamente não funciona”, diz Shapiro. E o programa Linux pilotava o aparelho, mas gerava vídeo horrível. Seus esforços para corrigir o programa deram em nada. “De qualquer modo, seria preciso ser programador Linux muito experiente e muito dedicado para lidar com aquilo. E o apoio técnico deles é horrível.” 

Sam Shapiro quer compor uma sociedade para construir uma rede aérea de jornalistas-cidadãos

Por fim, Shapiro conseguiu localizar um grupo de amadores europeus que haviam escrito seu próprio programa, do início ao fim, para o aparelho, chamado Javadrone “e fizeram trabalho muito melhor que o fabricante”. 

Pool usou pela primeira vez o AR Drone – que apelidou de Occucopter –, em dezembro, para cobrir uma manifestação em New York a favor dos direitos dos imigrantes. Mas o vídeo obtido não era aproveitável. Fez outro teste em Occupy Albany. Pool espera que “a primeira cobertura com o novo software e gerando vídeos de alta qualidade” aconteça no Congresso de Occupy, marcado para dia 17/1/2012, em Washington, DC. Outro jornalista cidadão, da Califórnia, usou também um Occucopter em filmagens aéreas, dia 19/12 (mas o Occucopter espatifou-se). 

Seja como for, o AR Drone não está incluído nos projetos futuros da dupla, dadas as evidentes limitações. “O tempo tem de estar claro, sem chuva, nem ventos fortes. E o aparelho é desequilibrado” – diz Shapiro.

O AR Drone pode ser pilotado de um console virtual como este


“Perdi um numa árvore em Albany. Está lá até hoje” – diz Pool. Vento apenas moderado impossibilitou uma demonstração de rua, para a revista Wired. Mas Pool e Shapiro voaram o AR Drone num porão de um centro comunitário em New York, onde Poll mantém uma pequena mesa de trabalho.  

Mesmo assim, o AR Drone é simples para os que não tenham habilidades de hacker experiente, e é barato. “Hoje, é provavelmente a melhor aposta, para as ocupações”, diz Pool. “Qualquer um pode sair e comprar um, e mandamos as instruções por e-mail.” 

Fato é que Pool e Shapiro já estão pensando algo maior que isso, e desenvolvendo melhor tecnologia para oferecer a outros jornalistas cidadãos.

“Muito mais importante é o zepelim” – disse Pool. Um balão bem grande, capaz de levantar peso e voar muito com baixo consumo de energia para os rotores de direcionamento. A baixa velocidade é vantagem: mantém a câmera estável e não há risco de escapar rapidamente de controle.

Tim Pool tem milhares de seguidores e pretende dominar o mercado de notícias  aéreas do #Occupy

Estão hoje tentando construir “Occucópteros” que operam, mais, como zepelins.

“Ninguém quer que eles façam manobras de combate aéreo” – diz Shapiro. “Só queremos que voe, pare lá em cima e faça imagens limpas.” Em vez de depender de comandos do solo, o zepelim “Occucóptero” receberá instruções periódicas, por chamada telefônica.

Essas instruções podem ser, por exemplo: subir até 40 pés, mover-se para tais e tais coordenadas GPS, posicionar a câmara num ângulo de 12 graus para baixo, direção noroeste, filmar de 30 graus a 12 graus por segundo, vai e vem. É mais como dirigir um cameraman, que pilotar um avião [mais, para os diretamente interessados, em Threat Level].

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