quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Quando Fidel encontra Ahmedinejad


12/1/2012, *MK Bhadrakumar, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Ahmadinejad e Fidel
O presidente do Irã Mahmoud Ahmedinejad chegou a Havana. Há notícias de que tem reunião marcada com Fidel Castro. Cuba abriu o tapete vermelho para receber Ahmedinejad – que esteve antes na Nicarágua; foi convidado de honra à cerimônia de posse do presidente Ortega (reeleito para o segundo mandado). 

Os EUA estão enfurecidos: o Irã não parece nada “isolado” internacionalmente. A presidente da Comissão de Assuntos Exteriores da Câmara de Deputados em Washington, Ileana Ros-Lehtinen, atacou tudo e todos. “Irã e Cuba são estados que patrocinam terroristas e têm de ser tratados como ameaças diretas à segurança nacional dos EUA (...). O regime iraniano rejeitou todas as aberturas propostas pelos EUA, e o regime de Castro nunca alterará suas posições”.

Interessante observar que o islã político e a esquerda latino-americana aproximaram-se sem dificuldades. O ímã mágico que atrai um grupo na direção do outro é a resistência. 

Chávez e Ahmadinejad
Vê-se hoje já bem evidente uma acomodação politicamente articulada entre o islamismo como força política e a esquerda latino-americana. Ahmedinejad é visto como agente de uma nova forma exemplar de antiimperialismo internacionalmente ativo, que sabe operar em ressonância com a consciência política da esquerda latino-americana, e vê nela traços pelos quais a pode identificar ao seu próprio projeto histórico. E o presidente venezuelano Hugo Chávez já esteve inúmeras vezes em Teerã, para conversas com Ahmedinejad. 

A atual viagem de Ahmadinejad reforça essa nova sintaxe da acomodação política entre os dois lados, e deixa para trás a patética história da Guerra Fria, quando o ocidente conspirava para jogar os marxistas contra os islâmicos, tentando assim abrir caminho para obter vantagens geopolíticas no Oriente Médio rico em petróleo. 

Infelizmente, poucos lembrarão que houve história semelhante a essa – que Ahmadinejad, Chávez, Castro e outros reinterpretam agora, e que remonta ao tempo da revolução bolchevique na Rússia.

Lênin promoveu um movimento antiimperialista na Ásia, contra as potências coloniais, e sempre viu os militantes islâmicos como aliados dos bolcheviques, na luta de libertação. No 2º Congresso do Comintern, em 1920, essa ideia estava já bem clara.

Ortega e Ahmadinejad
O idioma político que se escuta na atual viagem de Ahmedinejad também chama a atenção. Ahmadinejad saudou o presidente Ortega como “meu irmão revolucionário” e disse: “Nossos dois povos, em diferentes partes do mundo, lutamos para estabelecer a solidariedade entre todos e a justiça para todos.” 

Ortega, reeleito em novembro último para um segundo mandato, com 62% dos votos, estava felicíssimo. Convidou Chávez para participar de outra cerimônia da posse, na 3ª-feira, em Manágua: Ortega, Chávez e Ahmedinejad celebrarão na América Latina a vitória do partido de Sandino.

Antes, em Caracas, Chávez recebera Ahmedinejad com efusivas palavras de boas vindas, falando de Venezuela e Irã como “vítimas da ganância das superpotências”. Ahmedinejad respondeu que “Teerã e Caracas enfrentarão juntas a ganância de todas as grandes potências que querem dominar o mundo. Defenderemos nossos direitos.”

O trecho cubano da viagem será a cereja do bolo. Que conselho Havana dará a Teerã? Fidel Castro já mais de uma vez previu guerra nuclear, caso EUA-Israel ataquem o Irã.

*MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.

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