terça-feira, 26 de novembro de 2013

Ucrânia deu um “pé-na-b#nda” do “ocidente”

23/11/2013, [*] John Laughland (entrevistado), Russia Today
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Entreouvido no quiosque “Xuxu Frito” na Vila Vudu: Taí! Pense bem! São notícias que você nuuuuuunca verá/ ouvirá/ lerá na Rede Globo! [pano rápido]



Unir-se ao velho projeto geopolítico e ideológico europeu teria sido catastrófico para a economia da Ucrânia”, disse a Russia Today o especialista em economia e política John Laughland. Disse também que, hoje, quem estava chantageando a Ucrânia para que assinasse sua carta de suicídio era a União Europeia, não a Rússia.

Russia Today (RT): A ministra de Política Internacional da União Europeia, Catherine Ashton, diz que a decisão da Ucrânia de não assinar o acordo comercial proposto pela União Europeia foi um grande desapontamento. Quem perde mais, nesse caso – a Ucrânia ou a União Europeia? 

John Laughland (JL): Perde mais a União Europeia, por que foi quem concebeu esse Acordo de Associação, como todos os demais acordos que está tentando assinar com estados do antigo Leste Europeu, como seu projeto geopolítico. É muito importante compreender que, apesar das muitas acusações que se fazem hoje contra a Rússia, é a União Europeia, não a Rússia, quem tem a expansão para o Leste como projeto geopolítico e, de fato, ideológico.

Já vimos isso em setembro passado, com a Armênia, que, claro, comparada à Ucrânia é um país minúsculo e, por isso, nem aparece no radar de muitos “especialistas”; a Armênia optou por se associar em associação aduaneira com a Rússia e com os outros membros da mesma união aduaneira entre Rússia, Cazaquistão, Belarus e outros. Imediatamente, Bruxelas declarou que não poderiam assinar qualquer Acordo de Associação com a União Europeia.

Pequena manifestação pró acordo UE-Ucrânia em Kiev
foto: Gleb Garanish
Quero dizer que, já em setembro, a União Europeia deixou bem claro que, ou você assina o acordo com a União Europeia, ou assina acordo com os russos. Se assinar a “integração” aduaneira com a União Europeia, fica proibido de assinar coisa alguma com a Rússia. Isso, porque, há 20 anos, a União Europeia trabalha num projeto geopolítico e ideológico. Esse projeto é que hoje colidiu contra o rochedo ucraniano.

RT: O que lhe parece a declaração do presidente Putin, de que a União Europeia “chantageou” e “pressionou a Ucrânia” para que suspendesse o pacto assinado com a Rússia?

JL: Putin está absolutamente certo. Toda a imprensa-empresa ocidental o está acusando de chantagem, mas ele está certo. É o que acabo de dizer sobre a Armênia. A União Europeia disse aos armênios que, dado que assinaram a integração aduaneira com a Rússia, ficavam impedidos de assinar qualquer integração com a União Europeia. Era “recado”, indireto, para a Ucrânia. E é movimento que tem de ser visto no contexto do projeto geopolítico da União Europeia.

Não é simples acaso que todos os enviados da União Europeia, embaixadores e relatores que foram escalados para essa negociação com a Ucrânia sejam poloneses. Todos eram cidadãos poloneses. O enviado especial foi o ex-presidente da Polônia, Aleksander Kwaśniewski; o embaixador da UE em Kiev é polonês. A incorporação da Ucrânia à União Europeia é um antigo sonho da Polônia; os poloneses sempre viram a Ucrânia como quintal deles. Essa é a única via para compreender essa questão, mesmo que, afinal de contas, trate-se apenas de um acordo de comércio. Minha opinião é que a Ucrânia raciocinou com muita inteligência. 

Embaixada da União Europeia em Kiev foto: Marian Striltsiv
E devem-se dar os créditos também a [presidente da Ucrânia Viktor] Yanukovich, que ofereceu a possibilidade de uma discussão entre as três “partes”: Ucrânia, União Europeia e Rússia. Seu governo sempre disse que quer ser uma ponte entre a União Europeia e a Rússia. Pois essa proposta da Ucrânia foi furiosamente rejeitada pela União Europeia, precisamente porque seu projeto geopolítico é empurrar a Rússia para o mais longe possível dos negócios europeus.

Viktor Yanukovich
RT: Esse acordo comercial com a União Europeia ajudaria a economia da Ucrânia, que está passando por tempos difíceis?

JL: Esse acordo acabaria, de vez, com a economia da Ucrânia. Teria sido como um “golpe de misericórdia” numa economia já muito enfraquecida. E não o digo só por razões de polemista. Qualquer analista que acompanhe a história triste, em alguns casos catastrófica, das economias do Leste Europeu, sabe também disso, como eu acompanhei nos anos 1990s e 2000s – e estou pensando especialmente nos países dos Bálcãs, países mais frágeis como a Bulgária e a Romênia. 

Mas o mesmo vale, hoje, para países como Grécia e Chipre. Quem tenha acompanhado a história desses países nos últimos 15-20 anos, sabe o quanto a assinatura desse tipo de acordo com a União Europeia – e, de fato, até a “adaptação” que os países tiveram de fazer para qualificar-se para assinar acordos de integração com a União Europeia – foram absolutamente catastróficos para essas economias. As indústrias, nesses países, não têm meios para enfrentar a concorrência, porque a regulação na União Europeia é cara demais para essas economias mais fracas. E, também, porque seus mercados naturais estão no Leste, sobretudo na Rússia. Assinar qualquer tipo de integração comercial com a União Europeia, sobretudo no caso de isso implicar “separar-se” da Rússia, como a chantagem europeia lhes quer impor, é como assinar um bilhete de suicídio.
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[*] John Laughland (nascido em 06 setembro de 1963) é um jornalista britânico, eurocéptico  conservador, acadêmico e autor que escreve sobre assuntos internacionais e filosofia política. Tem doutorado em Filosofia pela Universidade de Oxford; estudou na Universidade de Munique, e tem sido professor na Sorbonne e no Institut d'Études Politiques de Paris. Também possui o diploma francês de pós-doutorado, a “habilitação”, por seu trabalho sobre “Soberania nas Relações Internacionais”. 
Laughland tem contribuído artigos para o The Guardian, The Mail on Sunday, The Sunday Telegraph, The Spectator, Brussels Journal, The Wall Street Journal, National Review, The American Conservative e Antiwar.com. Também é diretor da European Foundation, um eurocentro think-tank. Laughland foi editor convidado de The Monist em janeiro de 2007. Desde 2008, ele tem sido Diretor de Estudos no Institute of Democracy and Cooperation em Paris. É membro pesquisador do Centre for the History of Central Europe na Sorbonne (Paris - IV).

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