sábado, 1 de fevereiro de 2014

Nova Análise: Eleições antecipadas no Egito “podem aliviar pressão estrangeira”

27/1/2014, [*] Mahmoud Fouly, Xinhuanet, China
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Karl Marx explica, no seu celebrado 18 brumário de Luis Bonaparte [1], que as experiências de 1848-51 comprovaram-se muito valiosas para a bem-sucedida revolução de trabalhadores de 1871. E o Egito? Terá interlúdio de 20 anos, antes que volte a revolução real? Ou pode acontecer muito antes? Perguntem à Esfinge (...). Quando se trata de anatomia de revoluções, ninguém provavelmente sabe mais que Moscou e Pequim. E ambas estão apoiando robustamente a antecipação de eleições presidenciais no Egito (o que implica que estão, hoje, com o general Sisi e o que ele representa). (MK Bhadrakumar, Arab Spring speaks through graffiti -9/1/2014, Indian Punchline)

Adly Mansour
CAIRO, 26/1/2014 (Xinhua) – A decisão do presidente interino do Egito, Adly Mansour, anunciada domingo, de realizar eleições presidenciais antes das eleições parlamentares, “pode aliviar pressões estrangeiras” contra o Egito relacionadas ao mapa do caminho do atual governo apoiado pelos militares, dizem alguns especialistas em segurança.

Dr. Gamal Salama
Nações estrangeiras estão encarando o Egito como estado “acéfalo”, porque tem presidente provisório e governo de transição; nesse contexto, a decisão sobre antecipar eleições dará ao Egito mais peso e mais credibilidade nas relações com a comunidade internacional - disse Gamal Salama, diretor do Departamento de Ciência Política na Universidade de Suez.

Salama observou que a decisão aliviará pressões de estrangeiros sobre o Egito, na implementação de seu mapa do caminho para o futuro, depois da derrubada do presidente islamista, Mohamed Mursi, por golpe militar, em julho de 2013.

O presidente interino assinou também no domingo um decreto presidencial, baseado na Constituição recentemente aprovada, no qual ordena que a comissão eleitoral comece, no prazo de 90 dias, os procedimentos para a eleição.

Eleições presidenciais antes das eleições parlamentares podem acelerar o processo de cristalizar uma personalidade egípcia, no relacionamento com outros países – disse Salama em entrevista à rede Xinhua.

Imagem aérea mostra vista geral da manifestação pelo terceiro aniversário da revolta que derrubou o autocrata Hosni Mubarak na praça Tahrir, no Cairo comício pró-militar. 49 pessoas foram mortas, 247 feridos, 1.079 presos em 25 de janeiro 2014 (Foto: AP)
A decisão também teve efeito interno positivo, segundo o especialista; para ele

(...) a mentalidade egípcia tende a acreditar no poder do presidente, mais que em qualquer outra autoridade.

A decisão de antecipar as eleições presidenciais e o decreto foram noticiados um dia depois que egípcios pró-militares organizaram manifestações de massa para comemorar o 3º aniversário do levante popular que derrubou o governo do ex-presidente Hosni Mubarak.

Durante as celebrações do sábado (25/1/2014), houve confrontos em todo o país, entre manifestantes antigoverno, tanto islamistas como secularistas, e forças de segurança, que dispersaram várias passeatas e tentativas de organizar bloqueios à passagem de pessoas e veículos [orig. sit-ins], deixando 49 mortos e cerca de 250 feridos. No sábado, a polícia também prendeu mais de 1.000 suspeitos de apoiar Mursi e manifestantes de grupos de esquerda acusados de incitar tumultos e violência.

Um enorme buraco em frente à sede da polícia egípcia depois que uma bomba explodiu - Cairo, 24 de janeiro de 2014. Uma série de quatro explosões atingiu Grande Cairo, no mesmo dia, matando pelo menos seis pessoas e ferindo dezenas de outras pessoas (Foto: Mai Shaheen)
Na 6ª-feira (24/1/2014) e no domingo (26/1/2014), houve atentados terroristas contra prédios e pessoal da polícia, inclusive várias explosões, na capital, Cairo, em Suez e no Sinai, que mataram pelo menos 20 pessoas e feriram cerca de 120.

Yousri al-Azabawi, pesquisador do Al-Ahram Center for Political and Strategic Studies, concorda com Salama, e também entende que modificações no mapa do caminho no que se refere à ordem das eleições podem, sim, “aliviar as pressões estrangeiras sobre o Egito”.

A decisão também pode reduzir o tamanho do financiamento para a Fraternidade Muçulmana de Mursi, já declarada organização terrorista - disse Azabawi em entrevista à rede Xinhua.

Enfrentamento entre partidários do Governo e da Fraternidade Muçulmana em 22/1/2014
Para Azabawi, a realização de eleições livres e justas para eleger um presidente dará ao eleito e às forças de segurança “chance real no enfrentamento contra o terrorismo e para adotar procedimentos mais efetivos apoiados pela população egípcia”.

Mas Azabawi entende que fazer eleições presidenciais antes das eleições parlamentares “dificilmente afetará a Fraternidade Muçulmana ou fará diminuir os protestos antigoverno que organizam regularmente”. Para ele, “muitos ainda acreditam na possibilidade de reconduzir Mursi à presidência”.

Abdel-Fattah al-Sisi
Eleger um novo presidente enviará mensagem forte à comunidade internacional, de que o Egito está, sim, implementando seu mapa do caminho pós-Mursi, com vistas a construir um estado forte, civil e democrático – disse à rede Xinhua o general Mohamed Okasha, especialista em segurança.

Sobre a popularidade entre os egípcios do chefe militar e Ministro da Defesa, general Abdel-Fattah al-Sisi, e rumores de que se candidará à eleição presidencial, Okasha disse que “as urnas terão a palavra final”.

Sobre isso, ver também:
O Egito realizará eleições presidenciais antes das eleições parlamentares – disse o presidente interino do Egito, Adly Mansour, em discurso transmitido pela televisão, no domingo [26/1/2014, Xinhua.net, China, em inglês]



Nota dos tradutores
[1] MARX, Karl [1851-1852]. O 18 de brumário de Luís Bonaparte. Prefácio: Friedrich Engels. São Paulo: Boitempo, 2011, 176 pp. Trad. Nélio Schneider, ISBN: 978-85-7559-171-0. Ou online na Edições Avante (2ª Edição – Abril de 1984) Trad. de José Barata-Moura e Eduardo Chitas.
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[*] Mahmoud Fouly é correspondente do Xinhuanet no Egito 

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