domingo, 2 de fevereiro de 2014

Ucrânia: “Know-How” de desestabilização posto em prática

26/1/2014, Nikolai Malishevski, Strategic Culture
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Neonazistas ateiam fogo em barricadas de pneus
A intensificação repentina da ação dos extremistas da Ucrânia parece ser provocada por norte-americanos que não podem esperar até as eleições presidenciais de 2015. A principal tarefa é impedir a reaproximação entre Ucrânia e Rússia e, de modo algum, permitir que Kiev se mova na direção do leste, sob influência do que chamam de “expansão econômica de Putin”, que é como os norte-americanos designam os acordos bilaterais entre Rússia e Ucrânia, de 17/12/2013.

Nikolai Malishevski
Washington e Bruxelas têm pressa, porque a decisão da Ucrânia de estreitar a cooperação com a União Aduaneira fará crescer rapidamente o apoio eleitoral para Viktor Yanukovich, o que pode levá-lo a vencer as eleições de 2015...

O momento para começar a “sacudir o bote” parece ter sido escolhido tendo em vista as lições aprendidas no “cenário georgiano” montado em 2008. Dessa vez, a coisa está sendo encenada antes dos Jogos Olímpicos de Sochi. Os ativistas estão ocupando prédios públicos, já se ouvem os primeiros tiros e já há notícia de um morto.

O almirante John Kirby do Pentágono, diz que aviões dos EUA permanecerão em alerta em solo alemão durante os jogos, a duas horas de voo de distância de Sochi, para garantir socorro médico e material e evacuar cidadãos norte-americanos no caso de emergência. Navios dos EUA mover-se-ão para o Mar Negro com o mesmo objetivo (o Pentágono não explicou como, exatamente, navios de guerra podem ajudar a impedir atos terroristas).

Alguns “especialistas” em organizar protestos de rua, como o cidadão norte-americano Fink Brian, que chegou a Kiev dia 27/10/2013, recomendou que a oposição ucraniana recorra à ação violenta, mesmo que haja vítimas, para preparar o cenário indispensável à derrubada do governo. O processo estava marcado para começar dia 8/12, com uma declaração a ser feita na praça central que apresentaria à opinião pública um novo governo comandado por Arseniy Yatsenyuk, com discurso dirigido aos militares e à população, tomada de prédios públicos etc. O plano foi coordenado com algumas embaixadas de outros países, mas a implementação foi suspensa, ao que se sabe, porque Yatsenyuk deu sinais de indecisão.

Taras Stetskiv
Agora, no cenário atual, o plano está sendo implementado. Um ativista na praça, o ex-deputado Taras Stetskiv, do Parlamento, já disse publicamente que a praça já declarou que Yanukovych é presidente ilegítimo, e que um novo governo revolucionário de transição está sendo formado. Os clérigos da Igreja Ucraniana Unida [orig. Ukrainian Uniate Church] estão trabalhando ativamente na incitação à agitação e às hostilidades armadas; por exemplo, o cardeal Lyubomir Guzar já falou a favor da insurgência, e Arsenich quer a eliminação dos “inimigos ucranianos da Ucrânia”. As forças da oposição estão recebendo armas, inclusive armas de fogo. Já se derramou sangue.

Um deputado do Partido das Regiões, que está no governo, Yevgeny Balitsky, disse que um atirador especializado foi recrutado pelo ocidente:

Não se pode excluir a possibilidade de que um profissional atirador tenha sido recrutado num dos países da OTAN, e que foi trazido para cá sob ordens de grupos radicais – disse ele.

Circulam panfletos na praça que clamam por “10 inimigos da Ucrânia mortos, por cada patriota da oposição”.

Segundo o Departamento de Combate ao Crime Organizado, subdivisão do Departamento Central do Ministério de Assuntos Internos da Ucrânia, são cerca de 20 os grupos criminosos organizados em Kiev, que reúnem cerca de mil extremistas armados com rifles Kalashnikov. O Departamento diz em Kiev que a oposição já está armazenando armamento nos prédios “capturados”. O presidente do Partido Liberdade para Todos os Ucranianos, Oleg Tyagnibok, usou o palanque da praça para declarar o início da mobilização do seu partido e convocou “todos os não indiferentes” a ir a Kiev e enfrentar o governo. O deputado Andrey Pavlovsky, do “Batkivschyna” foi ainda mais longe: anunciou o início da guerra civil na Ucrânia:

Oleh Tyahnybok denunciou o governo “da máfia judeu-moscovita” na Ucrânia e que “alemães e o resto da escória” querem “nos roubar nosso estado ucraniano”. É um dos líderes dos protestos na praça – e, com Vitali Klitschko - está negociando com o presidente Viktor Yanukovych.
Marcus Papadopoulos, editor-chefe da revista britânica Politics First, diz que os protestos em Kiev foram organizados pela União Europeia e pelos EUA. O ex-embaixador dos EUA à ONU, John Bolton, disse que “placas tectônicas estão sendo realinhadas na Europa” e que “o grande prêmio” é a Ucrânia. Pogroms e sangue são o argumento derradeiro que o ocidente usa para fazer a Ucrânia tender na direção da “escolha europeia”.

Mais de 200 estrangeiros já foram evacuados do país: são os que trabalharam no planejamento dos pogroms e deram treinamento aos militantes. A maioria deles são cidadãos de estados ocidentais que trabalham sob o disfarce de jornalistas. 35 especialistas em “mudança de regime”, dos EUA, União Europeia e da Georgia, entre os quais o norte-americano Alexander Ross, já foram declarados persona non grata na Ucrânia.

Doug Bandow
Até especialistas norte-americanos, como Doug Bandow, diretor do Cato Institute em Washington, D.C., admite que Washington e Bruxelas não têm nenhuma razão formal que justifique a interferência sem precedentes nos assuntos internos da Ucrânia. Por isso, inventaram a questão de “leis antidemocráticas” aprovadas pelo Parlamento ucraniano dia 16/1 (o momento em que aquelas leis entraram em vigência está sendo apresentado como a oportunidade e a razão para o “aquecimento” dos confrontos).

É significativo que muitas declarações oficiais ocidentais relacionadas às “leis de 16/1” estejam sendo insistentemente distribuídas, apesar de o texto das leis nunca ter sido publicado!

De fato, se comparadas a leis vigentes nos EUA, as novas leis ucranianas são exemplo de extrema moderação e retidão política. Nem na Alemanha, na França, na Espanha ou na Polônia, ou em inúmeros outros países a lei é tão equilibrada e moderada: nesses países, a ação de extremistas é punida com muito mais rigor.

Na França, por exemplo, a pena pelo crime de incitar agitação popular é de cinco anos de cadeia; e no caso de a incitação levar a movimentos de massa de grandes proporções, a pena sobe para 30 anos; 15 anos, para quem construa barricadas e tome prédios públicos, dentre outras leis que tratam de idêntica ação de agitação.


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