segunda-feira, 28 de abril de 2014

A Conexão Clinton − Pinchuk: uma oligarquia ucraniano−norte-americana


21/2/2014, [*] Manlio Dinucci, Il Manifesto, Itália
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Bill Clinton cumprimenta Viktor e Olena Pinchuk 
Na mesa em Kiev, onde estava sendo negociado o acordo formal entre o governo, a oposição, a União Europeia e a Rússia [acordo que, logo no dia seguinte foi rompido pelos doidos neofascistas em Kiev], oficialmente não havia representante da poderosa oligarquia internacional que – com laços mais íntimos com Washington e a OTAN, que com Bruxelas e a União Europeia – está empurrando a Ucrânia na direção do Ocidente.

Caso exemplar é Viktor Pinchuk, magnata do aço, 54 anos, classificado pela revista Forbes como um dos homens mais ricos do mundo.

Pinchuk começou a acumular sua fortuna em 2002, quando se casou com Elena, filha de Leonid Kuchma, o segundo presidente da Ucrânia (1994-2005). Em 2004 o ilustre sogro privatizou a siderúrgica Kryvorizhstal, maior produtora de aço da Ucrânia, vendendo-a ao grupo Interpipe, do qual o genro era coproprietário, por 800 milhões de dólares, cerca de 1/6 do real valor da empresa.

Em 2007, Pinchuk fundou o grupo EastOne Group Ltd., empresa de assessoria a investidores internacionais, que oferece a multinacionais todas as ferramentas para penetrar nas economias do Leste europeu. Simultaneamente, tornou-se proprietário de quatro canais de televisão e de um tabloide popular (Fatos e Comentários) com circulação de mais de um milhão de jornais. Sem jamais, contudo, negligenciar a caridade, criou também a Fundação Viktor Pinchuk, considerada a maior “organização filantrópica” privada ucraniana. 

Viktor e Olena Pinchuk
Foi mediante essa fundação que Pinchuk ligou-se aos Clintons, como apoiador da Iniciativa Clinton Global, criada em 2005 por Bill & Hillary, cuja missão é “reunir líderes mundiais para criar e implementar soluções para os mais difíceis desafios globais”. Por trás do slogan impressionante, jaz o objetivo real: criar forte rede de apoio internacional para Hillary Clinton, a ex-primeira dama que, depois de servir como senadora por New York de 2001 a 2009, e como Secretária de Estado de 2009 a 2013, tenta agora sua segunda avançada à presidência.

A frutuosa colaboração começou em 2007, quando Bill Clinton agradeceu a “Viktor e Olena Pinchuk por sua vigorosa atividade social e o apoio que deram ao nosso programa internacional”.

Esse apoio consubstanciou-se numa primeira contribuição de 5 milhões de dólares, seguida de outras, para a Iniciativa Clinton Global. E abriu as portas para Pinchuk em Washington: por 40 mil dólares mensais, contratou o lobbyista Daniel E. Schoen, que agendou para seu patrão vários contatos com figuras influentes, inclusive uma dúzia de encontros em um ano, entre 2011 e 2012, com altos funcionários do Departamento de Estado. Os contatos revelaram-se excelentes para os negócios, permitindo que Pinchuk aumentasse suas exportações para os EUA, embora metalúrgicos na Pennsylvania e Ohio o estejam acusando de ter derrubado os preços dos tubos de aço fabricados nos EUA.

Viktor Pinchuk e Hillary Clinton doando 5 milhões de dólares à Fundação Clinton
Para estreitar ainda mais seus laços com os EUA e o Ocidente, Pinchuk criou a Yalta European Strategy (YES), “a maior instituição social do leste europeu para diplomacia pública”, cujo objetivo oficial é “ajudar a Ucrânia a converter-se em país moderno, democrático e economicamente eficiente”. Graças à capacidade financeira de Pinchuk (gastou mais de $ 5 milhões de dólares na celebração do próprio 50º aniversário, numa estação francesa de ski), a YES pôde montar ampla rede de contatos internacionais, que vieram à luz na reunião anual da instituição, em Yalta.

Reuniu “mais de 200 políticos, diplomatas, estadistas, jornalistas, analistas e líderes empresariais de mais de 20 países”. Entre esses, os principais nomes eram Hillary & Bill Clinton, Condoleezza Rice, Tony Blair, José Manuel Barroso e Mario Monti (presentes à reunião em setembro último), além de outros personagens menos conhecidos, mas nem por isso menos influentes, como vários diretores do Fundo Monetário Internacional.

Nas palavras de Condoleezza Rice, na reunião da YES em 2012, “Transformações democráticas exigem tempo, exigem paciência, exigem apoios. Tanto de dentro, como de fora”. É excelente resumo da estratégia que o Ocidente adotou, na rubrica “apoio de fora”, para promover “mudanças de regime”.

É a estratégia amplamente consolidada da Iugoslávia à Líbia, da Síria à Ucrânia, que consiste em cravar uma cunha em fissuras que existam em qualquer estado, ampliar a fissura e chacoalhar o estado, desde as fundações, apoiando e fomentando manifestações antigoverno (como as que se veem em Kiev, pontuais e organizadas demais para que se possa crer que sejam espontâneas), tudo isso acompanhado de campanha gigantesca, pela imprensa-empresa-“midiática”, contra o governo “marcado para morrer”.

No que tenha a ver com a Ucrânia, o objetivo é ou pôr abaixo o estado, ou parti-lo em dois: uma parte que se una à OTAN e à União Europeia; a outra, mais ligada à Rússia. A estratégia da empresa Yalta European Strategy do oligarca ucraniano parceiro dos Clintons encaixa-se exatamente aí.
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[*] Manlio Dinucci é geógrafo e geopolíticólogo italiano. Últimas publicações: Geocommunity Ed. Zanichelli 2013; Geografia del ventunesimo secolo, Zanichelli 2010; Escalation. Anatomia della guerra infinita, Ed. Derive Approdi 2005.


Notas da redecastorphoto:

Eis aqui, também,  alguns aspectos da Conexão do oligarca Pinchuk com a França levantados por Anna Malm:  

Pinchuk e Aurélie Filippetti
Quarta-feira, 27 de março de 2013. A Ministra da Cultura e da Comunicação da França, Madame Aurélie Filippetti, entregou as insígnias de Cavalheiro da Ordem de Artes e Letras à Victor Pinchuk, com a saudação de que se via nele “a imagem europeia do mecenato” assim como o “feliz casamento entre a indústria e a cultura. Assim como a imagem da monumental instalação de Olafur Eliasson, na qual o ferro se mostra em súbitos e constantes mudanças de estado, metamorfoseia-se também a nova fabricação do aço de Pinchuk. Ver em: Victor Pinchuk chevalier de l’ordre des Arts et des Lettres publicado em 1/4/2013, Ambassade de France em Ukaine – Kiev.

Pinchuk é um judeu ucraniano em terra de históricos POGROMS, este financista de 52 anos (em 2011), classificado como a 336ªfortuna do mundo pela revista Forbes/2011 (hoje estimada em 2,7 bilhões de Euros).

Viktor Pinchuk durante a entrevista
Meu professor de arte contemporânea é francês, Nicolas Bourriaud (crítico de arte que dirigiu “Le Palais de Tokyo” – “O Palácio de Tóquio” com Jérôme Sans de 2002 à 2006 e que atualmente é o diretor do “Beaus-Arts de Paris”- “Belas-Artes de Paris”, desde outubro de 2011). Eu o chamo mesmo de meu gurú! Eu o reencontrei em 2002 por intermédio do meu amigo Marcel Gross, diretor associado da Euro RSCG”.
Como existir socialmente em seu país sem se fazer nada de política?” É a Euro RSCG, na pessoa de Français Stéphane Fouks, que vai fornecer a Pinchuk uma resposta contendo três pontos centrais : 1. Criando um museu de arte contemporânea que valorize a arte ucraniana. 2. Criar um grupo de discussões (think tanks) para magnificar a Ukraina e sua entrada na Europa. 3. Criar uma fundação anti-sida abaixo da direção de sua esposa.

O oligarca se investe na filantropia
[...] Num certo período da vida apresenta-se o tempo de devolver o que se recebeu; guiado, então, por uma visão, disse Pinchuk. Entretanto a  Ucrânia não sai do seu rol de interesses: o frenesi artístico não é mais que uma etapa de conquista. Em cada outono europeu, em Yalta na Ucrânia, o seu grupo de discussões YES, Yalta European Strategy, trabalha para valorizar a Ucrânia com convidados como Tony Blair ou Dominique Strauss-Kahn. Em Davos, à margem da reunião formal, ele imprimiu sua marca em 27 /1/2013 organizando uma mesa redonda com a jovem Cheikha Mayassa, princesa do Qatar, a qual se interessa muito por arte, e escritor brasileiro, Paulo Coelho.


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