quarta-feira, 16 de abril de 2014

Receita secreta de Obama: “Kiev à moda Brennan”

15/4/2014, [*] Wayne Madsen, Strategic Culture
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

A pergunta a fazer é: por que Brennan teve de ir pessoalmente a Kiev? (...)

Primeiro, porque a Junta já mal consegue manter a fachada de que governa(ria) uma população de 45 milhões, muitos dos quais já se armaram e fazem implacável oposição aos “eleitos” só por Washington. Dada a alta posição de Brennan como eminência parda em Washington, a ida a Kiev visou a levantar o moral (?) do abalado “governo” de Kiev.

Segundo – e muito mais sinistramente – Brennan foi dizer & mostrar, do modo mais claro, aos seus anfitriões em Kiev, que podem contar com a ajuda de toda a monstruosa expertise do estado terrorista de Washington. 
 
16/4/2014, Finian Cunningham, The 4th Media News, Pequim em: CIA Terror Chief Pulls Rank in Kiev: The US’s $5 Billion Covert Investment in Regime Change At Stake

John Brennan, atual diretor da CIA, - Central Intelligence Agency
John O. Brennan, diretor da CIA-EUA está cozinhando uma tempestade que se abaterá sobre a Ucrânia. “Kiev à moda Brennan” é só o antepasto. Recentemente, Brennan fez visita secreta à capital da Ucrânia, quando se reuniu com os líderes do golpe para transmitir ordens de Obama sobre o ataque à oposição que cresce no leste da Ucrânia. Várias agências europeias de notícias informaram que Brennan pousou em Kiev dia 12 de abril, com passaporte diplomático e identidade falsa.

Ao que já se sabe, Brennan levou aos membros do “Conselho de Segurança e Defesa Nacional”, autoridade suprema criada pelos golpistas que derrubaram o presidente Viktor Yanukovich em fevereiro, ordens para esmagar com força extrema a rebelião de ucranianos pró-Rússia que cresce no leste do país. Na sequência, Brennan e outros funcionários do governo dos EUA também passaram a rotular como “terroristas” os manifestantes no leste da Ucrânia – item que nunca pode faltar na guerra de propaganda que os EUA e a inteligência ocidental movem contra o leste da Ucrânia e o governo da Rússia.

A informação sobre a visita secreta de Brennan a Kiev vazou, de início, de dentro do próprio governo da Ucrânia, que permanece cheio de funcionários leais a Yanukovich, e de membros do Partido Comunista da Ucrânia que não abandonaram o Parlamento ucraniano. 

Brennan coordenou as atividades anti-Rússia da CIA com os serviços de inteligência de aliados dos EUA na OTAN na Europa Oriental, especialmente com os Países Bálticos, Polônia, República Tcheca e Eslováquia. Brennan é filho de imigrantes irlandeses, casado com Kathy Pokluda, filha de imigrantes tchecos. A família Pokluda tem um ramo que ainda vive no oeste da Ucrânia. Os laços de Brennan com a República Tcheca, que teve vários governantes virulentamente anti-Rússia, pode explicar talvez, em parte, a fúria com que Brennan trabalha para fazer escalar as tensões com Moscou no leste da Ucrânia.

George Soros
Governantes e funcionários dos EUA e da Grã-Bretanha têm chamado de “combatentes da liberdade” e de “forças pró-democracia” os líderes do golpe violento que derrubou Yanukovich em fevereiro – mesmo depois que milicianos nacionalistas neofascistas armados atiraram contra a multidão reunida na Praça Maidan, usando atiradores treinados, camuflados em prédios em torno da área onde se realizavam as manifestações populares. Esses “combatentes da liberdade” mataram com tiros na testa inúmeros civis e policiais. A CIA, servindo-se sempre de ONGs da “sociedade civil” organizada por George Soros e de empresas de imprensa, cuidou de implantar notícias segundo as quais os tiros teriam partido de partidários de Yanukovich e, até, de forças especiais russas.

Agora, o que a CIA acusou Yanukovich e a Rússia de ter feito na Ucrânia é precisamente o que a mesma CIA está fazendo já há algumas semanas: usando forças especiais, entre as quais empregados da empresa Academi (a infame ex-Blackwater), que trabalha para a CIA, sob contrato, para atirar contra manifestantes pró-Rússia no leste da Ucrânia.

Brennan, cujos sentimentos pró-sauditas são tão conhecidos que seu apelido entre funcionários da CIA é “Xeique Brennan”, ajudou a preparar resposta violenta pelas forças ucranianas na cidade de Sloviansk e em outros centros populosos no leste da Ucrânia, entre os quais Donetsk, Carcóvia e Lugansk. 

Sergey Lavrov, Ministro de Relações Exteriores da Rússia
O Ministro Sergey Lavrov disse ontem, em conferência com jornalistas, que a Rússia ainda não recebeu resposta oficial a consulta sobre a presença de Brennan, portando identidade falsa, na Ucrânia.

A CIA tem longa história de assumir o comando virtual de forças de segurança estrangeiras, como o Serviço de Segurança Ucraniano [orig. Sluzhba Bezpeky Ukrayiny (SBU)]. Durante o governo do Xá, no Irã, a CIA dava ordens ao Serviço Secreto do Xã, SAVAK; depois que deixou a direção da CIA, o mesmo Richard Helms foi nomeado embaixador dos EUA em Teerã. Como agora Brennan, que está em atividade na Ucrânia, Helms comandava a SAVAK treinada pela CIA no Irã. A reação dos iranianos ao serviço que Helms fez em Teerã foi a Revolução Islâmica de 1979, que, em parte, foi reação ao fato de que a CIA continuava a treinar agentes do SAVAK, em técnicas de tortura e execuções de líderes da oposição iraniana.

A CIA também comandou, de facto, os serviços de inteligência do ditador Mobutu Sese Seko, do Zaire; do caudilho da República Dominicana, Rafael Trujillo; do ditador Manuel Noriega do Panamá; de Anastasio Somoza, homem-forte da Nicarágua. 

Mas – o que deveria gerar alguma preocupação entre os atuais governantes em Kiev – é preciso lembrar que, no instante em que qualquer desses ditadores deixou de ser útil à CIA, a própria CIA rapidamente os descartou. Mobutu morreu no exílio no Marrocos, depois de derrubado por forças ajudadas pela CIA. Trujillo foi assassinado dentro do próprio Chevrolet Bel-Air, por gente da CIA. Noriega foi preso, no instante em que tentava asilar-se na embaixada do Vaticano na capital do Panamá, depois de uma invasão norte-americana; cumpriu sentença em prisão na Flórida e na França e hoje apodrece numa prisão de selva no Panamá; e Somoza teve de fugir da Nicarágua, depois que os EUA suspenderam o apoio que lhe davam; seu carro, depois, foi atingido por um foguete antitanque, quando vivia exilado no Paraguai.

Arseny Yatsenyuk
O presidente impostor da Ucrânia, Oleksandr Turchynov; o primeiro-ministro impostor Arseny Yatsenyuk; o ministro do Interior impostor Arsen Avakov, e outros cabeças do golpe na Ucrânia com certeza ainda não consideraram o que a CIA faz aos “amigos” estrangeiros, depois que se tornam inúteis e descartáveis.

Vladimir Golub, deputado do Partido Comunista da Ucrânia disse à rede RIA Novosti que a agência SBU tornou-se “uma unidade da CIA”.

Funcionários da CIA rejeitaram as notícias de que Brennan estivera em Kiev como “completa mentira”. Mas Brennan é conhecido mentiroso, que várias vezes mentiu sobre outras operações clandestinas da CIA; e a CIA distribuiu a resposta padrão: “não confirma nem desmente” a presença de Brennan na Ucrânia. [A Casa Branca já confirmou: Brennan esteve, sim, na Ucrânia].

Brennan disse de tudo, exceto a verdade, sobre o seu papel, com sauditas e qataris, numa operação fracassada da CIA em Benghazi, Líbia, que resultou na morte do embaixador dos EUA, Christopher Stevens, e de três outros norte-americanos, mortos por islamistas rebeldes durante operação de transferência de armas, dos arsenais saqueados de Muammar Gaddafi, para jihadistas salafistas na Síria. Brennan era o vice-conselheiro de Obama para segurança nacional, na época do desastre de Benghazi. Depois que o então diretor da CIA, David Petraeus, renunciou (confessou que mantinha um caso extraconjugal com sua biógrafa), Brennan, funcionário aposentado da unidade de Serviços Clandestinos Nacionais da CIA, com extensas conexões com a Arábia Saudita, foi nomeado para substituir Petraeus.

Brennan ajudou a construir toda a política do governo de George W. Bush de “entrega secreta” de prisioneiros para serem torturados em diferentes prisões pelo mundo, usadas contra suspeitos de pertencerem à Al Qaeda. Depois que se aposentou, em 2005, Brennan constituiu sua própria empresa, The Analysis Corporation (TAC), fornecedora privada de serviços para a CIA.

Hillary Clinton
No início da campanha presidencial de 2008, empregados da empresa TAC, de Brennan, fizeram sumir dos arquivos do Setor de Passaportes do Departamento de Estado algumas informações sobre Obama e familiares, que o candidato não queria que fossem divulgadas. O miniescândalo também envolveu registros de passaportes dos dois adversários de Obama, Hillary Rodham Clinton e John McCain, também apagados dos arquivos. Brennan foi recompensado pelo empenho a favor da campanha de Obama, recebendo o segundo cargo mais alto no Conselho de Segurança Nacional e, depois, com a queda de Petraeus, foi nomeado diretor da CIA.

Brennan toma poucas decisões sem a aprovação de Obama. Qualquer decisão para mandar agentes da CIA, inclusive mercenários privados, para o leste da Ucrânia tem, com certeza, aprovação oficial de Obama. Essa aprovação oficial é dada por um documento conhecido como “Presidential Finding”, ou, noutros casos, com “uma piscadela e um aceno de cabeça” do presidente, para Brennan.

Brennan, que tem sido chamado de “knuckle-dragging thug” [pouco inteligente, violento, primitivo (ofensivo)] por funcionários da CIA aposentados e da ativa que o conhecem, certamente não seria das figuras mais bem-vindas na Ucrânia, se os golpistas de Kiev realmente estivessem considerando a possibilidade de algum acerto pacífico com os ucranianos do leste.


[*] Wayne Madsen é jornalista investigativo, autor e colunista. Tem cerca de vinte anos de experiência em questões de segurança. Como oficial da ativa projetou um dos primeiros programas de segurança de computadores para a Marinha dos EUA. Tem sido comentarista frequente da política de segurança nacional na Fox News e também nas redes ABC, NBC, CBS, PBS, CNN, BBC, Al Jazeera,Strategic Culture e MS-NBC. Foi convidado a depor como testemunha perante a Câmara dos Deputados dos EUA, o Tribunal Penal da ONU para Ruanda, e num painel de investigação de terrorismo do governo francês. É membro da Sociedade de Jornalistas Profissionais (SPJ) e do National Press Club. Reside em Washington, DC.



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