quarta-feira, 3 de junho de 2015

EUA: mentalidade binária e política caolha no Mar do Sul da China


Imprensa-empresa aqui e na China: tudo sempre a lesma lerda


2/6/2015, [*] Tom PlateChina Daily
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Patrulha chinesa guarda plataforma Haiyang Shi You 981 (ao fundo)
Rivalidade entre grandes potências não tem, necessariamente, de gerar super atrito. A competição pode produzir excelência e até boas ideias novas. Exemplo disso é o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (BAII).

Enquanto praticamente todos os países do mundo entusiasmaram-se com a ideia desde o início, os EUA não apenas se puseram a criticá-la, como também pressionaram seus aliados, tentando impedi-los de integrar-se ao novo banco. Porque a ideia não foi deles – foi ideia da China. E daí? Até o Reino Unido, com suas ditas “relações especiais” com os EUA, mostrou-se entusiasmado.

Provavelmente, outras boas ideias virão da China – certamente virá de lá alguma boa ideia para acalmar a tempestade no Mar do Sul da China. Então a razão reinará sobre as águas, e a disputa tresloucada por recursos será devidamente contida nos canais da diplomacia.

Mas um grave impedimento para o mútuo entendimento e avaliação ponderada da realidade é a mídia norte-americana. Na questão do Mar do Sul da China, o serviço prestado por jornais e jornalistas norte-americanos foi horrível – tendencioso e ideológico.

Por que tanto insistem em pintar a China como se fosse algum peixe gigante do mal, como o monstro do filme Tubarão, e os EUA, como um golfinho risonho do bem? O mundo real é selva complexa; a vida real geopolítica não é esse tolo arranjo binário.

A China – registre-se, em nome da acuidade e da justiça históricas – há muito tempo já ratificou formalmente a Convenção da ONU para a Lei do Mar para todos os povos. Os EUA até hoje não ratificaram seu compromisso e adiam a ratificação o mais que podem.

Convenção da ONU para a Lei do Mar
Há anos os obstrucionistas no Senado dos EUA impedem a ratificação formal daquele acordo, sob o argumento de que a Convenção da ONU para a Lei do Mar pode vir a obstruir o livre trânsito de interesses dos EUA. Ora, a lei internacional existe para ser aceita e respeitada por todos os povos, não para ajudar só alguns “favoritos” – e sempre os mesmos. Mas até aí, é a boa notícia.

A má notícia é que os EUA ainda insistem em tentar forçar a China e qualquer outro país a “respeitar a lei internacional”, mas só nos casos em que a “lei” vise exclusivamente a manter o status quo geopolítico. Essa é atitude que será muito difícil manter, em tempos em que toda a Ásia – não apenas a China – cresce dramaticamente. Nações que ainda creiam que continuarão a usufruir no século XXI o mesmo status que tiveram no século XX bem farão se reconsiderarem todas essas suas crenças.

Liderar, seja em Washington seja em Pequim, exigirá que ambas as capitais tenham clara compreensão uma da outra. Se a política chinesa se baseasse no pressuposto de que os EUA estariam em rápido declínio, a China erraria. Se a política norte-americana pressupõe que a velha China tenha de ser contida no lugar que lhe competia, alguém nos EUA exagerou nas pílulas para dormir.

A tarefa dos dois governos é acomodar a inevitabilidade da China, de modo a maximizar os interesses comuns de todos – e evitar a guerra.

As piores políticas norte-americanas sempre serão as políticas da hipocrisia: opor-se a uma boa ideia, como é o BAII, por razões de autointeresse; e tentar impor às questões do Mar do Sul da China uma mentalidade analítica simplória, de Guerra Fria, que não dá conta da realidade contemporânea. Nesse ponto, os EUA têm muito com que se preocupar: qualquer envolvimento mais ostensivo dos EUA pode converter a questão do Mar do Sul da China em confronto violento de superpotências, que ninguém deseja.

Mar do Sul da China - Demarcação de águas territoriais de cada país
(clique na imagem para aumentar)
Em vez de inflar o próprio perfil no Mar do Sul da China, os EUA devem acalmar-se e mover-se com a máxima cautela, não importa o quanto eles mesmos digam que suas intenções são as mais santificadas. Bill Hayton, observador das questões asiáticas, em seu inestimável novo livro The South China Sea, cita um diplomata asiático muito respeitado:

Se você empurra uma grande potência contra outra, a dinâmica de superpotência domina a questão e marginaliza qualquer possibilidade de acordo pacífico.

Nisso, acertou perfeitamente.

________________________________________________


[*] Tom Plate foi  editorialista e articulista do Los Angeles Times e fundador da Agência Asia Media International. Profundo conhecedor da Ásia. Obteve doutorado pela Loyola Marymount University com tese sobre Geopolítica do Pacífico Asiático.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.