quinta-feira, 2 de julho de 2015

Slavoj Žižek em apoio ao povo da Grécia


1/7/2015, Greek Left Review
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Slavoj Žižek

A luta que se trava hoje é luta pela cultura econômica e política dominante (Leitkultur) na Europa. As potências da UE defendem o status quo tecnocrático que preserva e mantém há décadas a inércia da Europa.
Em suas Notas para uma Definição de Cultura, o brilhante conservador T.S.Eliot ensina que há momentos nos quais a única escolha que há é entre a heresia e a não crença, i.e., quando a única maneira de poder manter viva uma religião é fazer um corte sectário no âmago do corpo principal.
Essa é nossa posição hoje, em relação à Europa: só uma nova “heresia” (representada hoje pelo Syriza) pode salvar o que ainda vale a pena salvar do legado europeu: a democracia, a confiança no povão, a solidariedade igualitária.
A Europa que vencerá, se o Syriza for atropelado, é uma “Europa com valores asiáticos” (o que, é claro, nada tem a ver com a Ásia, mas tem tudo a ver com a tendência visível e atual no capitalismo contemporâneo, de suspender a democracia).


Nós, da Europa Ocidental gostamos de olhar para a Grécia como se fôssemos observadores distanciados que acompanham, com compaixão e simpatia, o suplício de uma nação empobrecida. Esse confortável ponto de vista repousa sobre uma ilusão fatídica. Verdade é que o que se passa na Grécia nessas últimas semanas nos concerne a todos, o que está em jogo é o futuro da Europa. Portanto, quando lemos sobre a Grécia desses dias, não nos esqueçamos que, como diziam os antigos, de te fabula narratur [a fábula fala de ti].

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[*] Slavoj Žižek (nasceu em Liubliana, capital da Eslovênia em 21 de março de 1949), doutorou-se em Filosofia na sua cidade natal e estudou Psicanálise na Universidade de Paris. Žižek é conhecido por seu uso de Jacques Lacan numa nova leitura da cultura popular, abordando temas como o cinema de Alfred Hitchcock e David Lynch, o leninismo e tópicos como fundamentalismo e tolerância, correção política, subjetividade nos tempos pós-modernos e outros.
Em 1979, começou a trabalhar no Instituto de Sociologia de Liubliana. Pouco depois, em 1980, começou a publicar livros que examinavam as teorias Hegelianas e Marxistas a partir do ponto de vista da teoria psicanalítica Lacaniana. Além disso, editou certo número de traduções de Louis Althusser, Jacques Lacan e Sigmund Freud para o Esloveno. Candidatou-se a Presidente da Eslovênia em 1990, mas perdeu.
Tornou-se largamente reconhecido como teórico contemporâneo a partir da publicação de O Sublime Objeto da Ideologia, seu primeiro livro escrito em inglês, em 1989. O trabalho de Žižek não pode ser facilmente categorizado. Ele retorna ao sujeito cartesiano e à Ideologia Alemã, especialmente aos trabalhos de Georg Wilhelm Friedrich Hegel, Immanuel Kant e Friedrich Wilhelm Joseph Schelling.
Žižek é ateu e suas teorias frequentemente vão contra as análises teóricas tradicionais. Ele costuma ser politicamente incorreto e já causou diversas polêmicas em vários círculos intelectuais. Ressalta com frequência que, para entender a política de hoje, nós precisamos de uma noção diferente de ideologia.

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